ORIGENS
Jayme Caetano Braun
Se me perguntam, respondo,
venho da terra jesuíta,
sou daqueles que acredita
que o mundo velho é redondo,
sou gaúcho e não escondo,
do meu orgulho de sê-lo;
mistura de terra e pelo,
misto de touro e de potro
que não podem fazer outro,
porque extraviou-se o modelo!
Vou chegando e desencilho,
no sentido figurado,
neste pago iluminado,
como cantor andarilho,
podem me tratar de filho,
de pai, de amigo, de irmão,
sempre é a mesma gratidão
do gaúcho abarbarado
que um dia foi batizados
na catedral de um galpão.
E se não tenho canudo,
anel de grau de doutor,
me diplomei payador,
gaúcho acima de tudo,
no plenário macanudo
da primeira faculdade;
na velha Universidade
do pampa, o meu universo,
e fiz o primeiro verso
pra rimar com liberdade!
Quem me chama copiador
de gaúcho castelhano,
esquece que sou pampeano,
graças a Nosso Senhor
e a alma do payador,
não se curva a nenhum trono,
sempre fui meu próprio dono,
noverso e no
improviso
e por isso não preciso
de usar o papel carbono.
Quem se declara inimigo
das coisas do nativismo,
não deve ter o cinismo
de procurar nosso abrigo,
nem presente, nem antigo,
pra que nada se confunda,
há o perigo de uma tunda,
pra não ser mal-ensinado
que todo o piá malcriado
leva um planchaço na bunda.
Os que gostam de baiões
de xaxados ou de roques,
ou preferem outros toques
alheios as tradições,
procurem outros fogões,
com rumba, com suingue e conga,
porque ali , o chão se prolonga
no velho pampa bravio,
vala, vaneira, bugio,
schotis, rancheira
e milonga!