MORREU O VELHO, CHÔ-ÉGUA

Jayme Caetano Braun

 

Morreu o velho chô-égua,

ro rancho - junto à lagoa,

longe rinchava uma égua,

distância de meia-légua

vinha branqueando a garoa!

 

De onde saíra esse vago?

- gente dali - não sabia,

ao que parece era cria,

parida num outro pago,

desses que - acolhera um trago

à moda dos ancestrais,

pelo gosto - no mais,

de reviver um afago!

 

História igual a de tantos,

sem rumo nem geografia,

como traste sem valis

que se encontra pelos cantos,

cultores de estranhos santos,

escravos das próprias baldas

carregando nas espaldas

as mágoas de não sei quantos!

 

Com os olhos entrecerrados

junto ao fogão de espinilho,

revivia o andarilho

seus mil romances passados,

cruzando nos descampados

entre paisano e milico,

índio pobre - sempre rico,

muito mais duro que o aço,

um poncho enleado no braço

e adaga de palmo e pico!

 

E a si mesmo se revia,

nos tragos de sonolência,

quando era rei da querência

nas canchas de pulperia

e - nas coplas que media

pra não perder o embalo,

mais entonado que um galo,

quando "boleava o garrão",

domando - dava a impressão

que era um cacique à cavalo!

 

Agora - vive de changa

e ajutório nas estâncias

quem se curtiu nas distâncias

não sente o peso da canga,

saudade de alguma tianga

que ao longe - fica mais larga

e se pára mais amarga

que espinho de japecanga!