MORREU O JACINTO LOUCO
Jayme Caetano Braun
Neste final de payada,
Fiquei sabendo - faz pouco,
mais outra fatalidade,
na minha velha cidade,
morreu o "Jacinto Louco".
Louco -
bendita loucura,
feita de puro carinho.
Alguém que desde piazinho
viveu tropeando amargura;
aquela estranha figura,
em cuja fisionomia,
um lampejo a gente via,
já meio cego - de arrasto,
depois de perder o rasto
dum sonho que perseguia.
Mas a vida foi mais louca,
do que o louco que morreu,
porque só tinha de seu,
uma gaitinha de boca;
fortuna pouca - tão pouca,
mas que - pra ele - era enorme,
na semivida inconforme,
a música sempre acalma
a tempestade da alma
de quem - dormindo - não dorme.
Entrou no século adentro
chegado - não sabem donde,
como alguém que não se esconde,
escolheu São Luis por centro.
A relembrar me concentro
voltando o tempo que passa;
o inquilino de graça,
que nunca tomava banho,
era o "sinal" do rebanho,
ali - no banco da praça...
O abridor de portões
que se abrigava ao relento,
já mudou de acampamento,
liberto das privações,
mas ficou nos corredores,
dos que amavam a nobreza,
dos que amavam a pureza,
do pobre louco infeliz
e hoje - no céu de São Luís
há uma estrela grande acesa!
O tempo fica pra trás,
mas eu confesso que sinto,
pela força do instinto
da saudade me enfumaço:
- São Luís perdeu um pedaço
já não tem mais o JACINTO!