MOMENTO SÉRIO

 Jayme Caetano Braun

 

Levanta-se na paisagem

desta minh’alma campeira,

as crinas da cabeleira

daquela indiada selvagem

que misturava coragem

com rasgos de fidalguia,

entremeando ventania,

com terra e com sacrifício,

peleadores por ofício

porque a vergonha existia.

 

Olho no espaço e vejo,

na brasa que o céu destapa,

a minha terra farrapa

fruto do nosso falquejo,

o berço altivo do andejo

que encarava o sol de frente;

a gente da minha gente,

a cepa, o tronco a raiz,

posta perante o país,

na condição de indigente!

 

Velhos sinais de perigo,

ou, melhor dito, de luto,

até parece que escuto

trovoadas de um tempo antigo,

quando o taura ao desabrigo,

com sangue a meia costela,

calçava o pé na cancela,

neste garrão de querência,

pra manter a permanência,

da Pátria Verde-amarela!

 

Chego até a escutar os gritos,

de soldados e paisanos,

de índios e castelhanos,

surgidos dos infinitos,

cumprindo os sagrados ritos,

de guardar, linha e barranca,

legendas que não se arranca,

dos que queriam viver,

mas preferiram morrer,

a entregar a bandeira branca.

 

Talvez que alguns se reneguem,

chão dos meus antepassados,

mas que importam renegados,

eles e aqueles que o seguem?

Que se avacalhem, se entreguem,

haverá sempre um turuna,

haverá um garrão de tuna,

com fibra e com coração,

para dizer que este chão

não é uma terra reúna.

 

Aqueles que não entendem,

nossa base de estrutura,

ou não leram a escritura

de onde os gaúchos descendem,

os que compram e que vendem

sem respeitar a legenda,

os do encobre e do remenda,

do entulho e do desmande,

não sabem que este Rio Grande

não é uma sucata à venda!!