MATEANDO
Jayme Caetano Braun
Meu patrício, aí foi o mate,
Vá chupando,
despacito,
Que é triste matear solito
Quando a velhice nos bate,
Por isso, neste arremate,
Que chegou num arrepio,
Meu velho peito vazio
Que já teve tanta dona
Resonga que nem cordeona
Nos bailes de rancherio.
Não é que me falte fibra
Nem firmeza no garrão
Pois meu velho coração
Bem compassado ainda vibra.
Quem gastou fibra por fibra
Da sorte fazendo alarde,
Não cala por ser covarde
Nem chora por ser manheiro,
Lamenta é o sol derradeiro
Que vai borcando
na tarde.
É a saudade, essa punilha,
Que vai nos
roendo o carnal,
Esse caruncho infernal
Que fura até curumilha,
É a derradeira tropilha
Da vida mal tironeada
Que chegando ao fim da
estrada
Se dá conta, num segundo,
Que veio e vai deste mundo
Sofrendo a troco de nada.
É triste matear
sozinho
De tarde ou de madrugada
Amargando a paleteada
De algum passado carinho,
Como dói lembrar o ninho
Que o tempo levou na
enchente,
Mas, porém, deixou semente,
De tristeza e de amargura
Pra reviver a ternura
De alguém que já foi da
gente.
É por isso meu patrício
Que não mateio
solito
Embora o verde bendito
Pra mim seja mais que vício.
É o meu último municio,
Que não dispenso nem largo
E peço a Deus, sem embargo,
Da chucreza
do meu canto
Que no céu me guarde um Santo
Parceiro pro Mate-Amargo.