GAÚCHOS
Jayme Caetano Braun
Venho dos anseios grandes
das três pátrias maldonadas
que empurraram a trompadas
os rios, as pampas e os Andes,
na gesta dos quatro sangues,
onde nasceu o gaudérioi
irmanado ao Tio Lautério
ao Martin Fierro e Hernandes.
Trago na genealogia,
índios, negros, lusitanos,
mestiços e castelhanos,
brotados da geografia
que á hora em que me paria,
livre de mal e quebranto,
parou pra ouvir meu canto,
mesclado com ventania.
Me
alargaram as retinas,
de tanto bombear distâncias,
no vai e vem das estâncias
das pampas continentinas;
herdei a cruz das batinas,
mas sou dos mesmos sinuelos,
dos “Lusíadas” de pêlos
e os “Don Quixotes” de
crinas!
Talvez daí, a rebeldia,
baguala que me norteia,
eu que nasci na peleia,
pra andar no mundo “A lá cria”;
era meu tudo que havia,
na terra que já foi séria,
onde exploram a miséria
e comem a geografia!
Apesar disso, mantenho,
aquelas glórias que herdei,
escravo que já foi rei,
conservo as baldas que tenho,
sempre no melhor empenho,
sem nunca perder o jeito,
no sacrossanto direito
de me orgulhar de onde venho.
Gaúcho-
Gaúcho, que encerra
a própria ancestralidade!
mataram-me a identidade
que foi bandeira de guerra;
o vento xucro que berra,
atesta essa realidade:
das léguas de liberdade,
não resta um palmo de terra.