GALPÃO

Jayme Caetano Braun

 

Galpão velho chamuscado

No fogão de gerações

Onde as velhas tradições

Desentonadas e ariscas

Se renovam nas faíscas

Quando se bate os tições!

 

Trazes ao meu pensamento

O que dantes existia

Nesta Província bravia

Gaúcha e pevilegiada

Na primitiva alvorada

Do Rio Grande que nascia!

 

Velho abrigo Rio-grandense

Plantado na pampa nua

Onde a carne meio crua

Irmanou com Portugal

A velha Espanha imortal

E o nobre sangue charrua!

 

Foi bem ali junto ao mate

Nessa rude comunhão

Quwe definiu-se o padrão

Do gaúcho flor do pago

Caudilho monarca e vago

Cheio de amor ao rincão!

 

Na formação do Rio Grande

Nada influiu como tu

E até o gaúcho mais cru

Como berço considera

Este abrigo que venera

Desde Sepé Tiaraju!

 

Por isso ao te ver deserto

Local de duendes e assombros.

Eu sinto sobre os meus ombros

Na escuridão que se alarga,

O peso da dor amarga

Que brota dos teus escombros!

 

Só te resta a luz escassa

Dum campeiro entardecer

E me parece ao te ver,

A luz desse clarão vago

Que és a alma do meu pago

Que está por se desprender!