DUAS
CRUZES
Jayme Caetano Braum
Um
era taura e se perdeu por taura,
outro
era maula e se perdeu por maula,
quebras
demais para viver em jaula,
com
muita raça pra esconder a cara.
Dois
irmãos gêmeos, um igual ao outro,
de
olhares gêmeos com fulgor de auroras,
mais
parecidos do que um par de esporas
num
par de botas de garrão de potro.
O
pai, um tigre que a branquear ficara,
entre
ossamentas, num tendal de guerra,
a
mãe chirua com sabor de terra,
o
lar, um rancho, santa-fé e taquara!
Um era
maula, mesmo sendo taura
outro
era taura mas não era maula,
mas
não nasceram pra viver em jaula
e
nem tampouco pra esconder a cara.
Por
isso um dia, quando o comissário
chegou
no rancho pra prender o maula
achou
dois tigres numa mesma jaula
junto
à mãe velha, deusa do santuário.
Saltaram
fora, pra livrar das balas,
a
mãe querida que os amamentara,
caiu
morrendo, junto à porta, o taura,
caiu
já morto, logo adiante o maula!
De
toda a parte vinham fogonaços
e
os dois ficaram mais iguais na morte
pois
mesmo tigres pra enfrentar a sorte
não
tinham breves pra atacar balaços!
Do
par de tauras tombou na luta,
restou
somente, sem fulgor de auroras,
mais
parecidas do que um par de esporas,
um
par de cruzes, de madeira bruta!
Por
isso à noite - nunca faltam luzes,
defronte
ao rancho onde a saudade habita.
É a
mãe dos gêmeos que ficou solita
e
acende velas, pra velar as cruzes!