DE PRIMEIRO
Jayme Caetano Braun
Qual um pagé
missioneiro
Dos Sete Povos-
me ajoelho,
Marcando no chão vermelho
Meu brasão de feiticeiro,
Janeiro, atrás de janeiro,
Venho vindo-
com paciência,
Mas agora esta querência
Não é como “de primeiro”.
“ De primeiro” eu era piá
que apenas engatinhava,
mesmo assim, não me assustava
com fogo de boitatá
e, crescendo, ao Deus dará,
No instinto de viver,
Desfrutava sem saber,
Tudo o que a infância nos dá.
“De primeiro”- era bom,
nos comércios de carreira,
no lombo da perelheira
já desde o prender o grito,
taloneando, despacito,
pra honrar o sangue e o braço
e, cruzar no fim do laço,
rebenque erguido, solito.
De primeiro-
era faceiro,
Preferido das xiruas,
Andava arrastando as puas
Num trancão
de patacoeiro
Sem rumo nem paradeiro,
Cruzando de ponta a ponta
E, só agora me dou conta:
Como era bom”de
primeiro”.
De primeiro-
era pavena
Nos bastos me fiz tinhoso,
Se o quebra arrastava o toso
Lo charqueava de chilena
E, quando valia a pena,
Por um beijo e um abraço
Levava até manotaço
De muita tigra
morena...
De primeiro”-
sempre ouvindo
Da boca dos mateadores
Sobre passados amores
Ou de tempos sumindo,
Os andejos repetindo
Antigas evocações,
Peleias- revoluções,
“De primeiro” é que era
lindo!
Eu fico a pensar, parceiro,
Hoje, sou tronco e raiz,
No Rio Grande, o meu país,
Que teima em ser brasileiro;
Amansou-se o caborteiro
Com crina de gavião mouro,
Já não existe índio touro
Como havia, “de primeiro”...