DA MARCA ANTIGA
Jayme Caetano Braun
Mãe bugra
missioneira
É a história que me pariu
Na barranca desse rio
Numa taba de fronteira
Escolhi minha bandeira
E fiquei de sentinela,
Com sangue á meia costela
Desfraldando um estandarte
E me tornei o baluarte
Da Pátria verde-amarela.
Os anos foram passando,
Fui domador e vaqueiro,
Fui pastor e miliciano
Cuidando a terra, e peleando,
E ao mesmo tempo empurrando
As linha da geografia
Fui sempre a
filosofia
Da história deste país,
A corte viveu feliz
Que o gaúcho garantia.
Nunca fui mais e nem menos
Nesta vida de pariadas,
Curtido por muitas geadas
E amaciado de serenos,
Vendo grandes e pequenos,
Com respeito, frente a
frente,
Porque nasci independente,
De Sepé,
fiz o meu santo,
E esparramei o meu canto
Por todo este continente.
Por isso é que não me calo
Do que é meu, ninguém, se adona,
A guitarra e a cordeona,
Cadenciando o mesmo embalo,
Sobre o lombo do cavalo
Dia e noite, lança em riste,
O homem que canta triste
Na pampa continentina,
A matriz me discrimina
Mas sabe que a gente existe.
Monarca deste hemisfério,
Nunca gostei de tiranos,
Até andei, por muitos anos,
Peleando contra o império
E permaneço gaudério,
Todos sabem de onde vim,
Sou o princípio e o fim,
Dentro do meu próprio espaço,
Se me cortam
um pedaço,
Não sobra nada sem mim.
E, se tudo evoluiu
Aqui no meu parapeito,
Sigo exigindo respeito
A terra que me pariu
Bebendo do mesmo rio,
Cantando a mesma cantiga,
Não há de faltar quem diga,
Um dia quando eu me for,
Que conheceu um cantor
Daqueles da marca antiga.