CUIA

Jayme Caetano Braun

 

A cuia de chimarrão,

sempre em constante rodeio,

a mim me parece o seio,

da china que a gente adora,

querendo sair pra fora

a espera de um manuseio!

 

E não existe malícia,

em manusear o que é lindo,

um seio que vem saindo

a espera de uma carícia,

a velha cuia, patrícia,

entre o silêncio e a prosa,

aninha na mão carinhosa

todo doce contorno

que vai se tornando morno

como apojo de barrosa.

 

O  índio sente, ao pega-la,

com toda a delicadeza,

o feitiço de beleza

que enternece e embuçala,

deixando de lado a fala,

porque a fala nada expressa

e o círculo recomeça

seus milênios de existência,

na eterna circunferência

do nomadismo sem pressa...

 

Nesse ambiente só podia,

 sair mesmo, o que saiu,

o índio pampa,  arredio,

mesclado com ventania,

produto da geografia

com sopros de tempo largo,

desde que teve o encargo

de fazer pátria e fronteira

que a bugra mãe feiticeira

batizou com mate amargo!

 

Poesia e devaneios,

galopeados tantos anos,

rastreadores e vaqueanos,

potreadas e pastoreios,

o rangido dos arreios

e a melena semchapéu

chiripá, lança, sovéu,

clarinadas e repontes,

a barra dos horizontes

e os caibros altos do céu...

 

Esse quadro, essas paisagens,

seguem desfilando, a cores,

na cuia dos mateadores,

atores e personagens,

as lendas e as miragens,

longe no tempo extraviadas,

lembranças velhas alçadas,

que passeiam e se agitam,

quando as brasas ressuscitam

as saudades machucadas.