CARRETEIRO

Jayme Caetano Braun

 

Carreteiro, és do meu pago

A encarnação da paciência.

Crioulo de pura essência

Sempre ao passito cruzado,

Atrás de ti, vão ficando

As ilusões da querência!

 

Velho paisano extraviado

De alguma peleia bruta

Na vastidão que te escuta

O teu canto de índio vago

Recorda os filhos do pago

Que não voltaram da luta!

 

Quando eu escuto os teus gritos

Acordando a soledade,

Quanta tristeza me invade

Porque vejo, carreteiro,

Que o destino caborteiro

Te carregou de saudade!

 

Lá vais cortando as quebradas

Na imensidão da planura,

E na rudez da ternura

Que do teu rosto se expande

Se diviza um'alma grande

Que algum recuerdo amargura!

 

Levas contigo a saudade

E tristeza que te vence,

Pois nada mais te pertence

E o teu pesado letargo

É um sorvo de mate-amargo

Da tradição Rio-grandense!

 

E quando junto a carreta

O teu fogão se incendeia

Se levanta e corcoveia

Semelhas dentre o clarão

Algum cacique pagão

Na evocação da peleia!

 

E ao te ver assim sozinho

Vou dizendo uma oração,

Pois sinto no coração

Que uma saudade perpassa,

Que és um fantasma da raça

Carreteando uma ilusão!!!!!