A VOLTA DO PAYADOR

Jayme Caetano Braun

 

Está de volta o cantor,

a morte é que não tem volta,

trago comigo - de escolta,

lembranças do campo em flor;

o carinho e o amor,

motivos do meu viver,

e preferia morrer,

se me chegasse a faltar,

a vontade de cantar

e o direito de querer!

 

Nas - como nascem tantos,

na costa de uma restinga,

na hora em que a jacutinga

floreava os primeiros cantos

e o céu, de candeeiros santos,

abria o poncho estendido;

o chinaredo reunido,

cercava um catre lá embaixo,

a parteira gritou: macho!

e foi aquele alarido!

 

É sempre assim o ritual,

do qual não foge ninguém,

- um tapa no recavem,

antes do berro inicial;

é o começo do final

que acompanha a criatura,

profecias de ventura,

murmuradas por padrinhos

e - mais adiante os caminhos,

de incerteza e de lonjura!

 

Depois disso - o gado de osso,

da estância do arvoredo,

a mangueira de brinquedo

e os touros berrando grosso;

talvez o primeiro esboço,

na mente do guri incréu

que - ouvindo falar em céu

e providência divina,

viu que o instinto é que ensina

a desarmar o mundéu!

 

...E o meu flete de taquara,

louco de tão caborteiro,

uma tala de coqueiro

e um ar de homem na cara;

é assim que a vida prepara

o piazedo da querência;

na mala - a reminiscência,

de alguns momentos risonhos

e um fiambrezito de sonhos

para tropear a existência!

 

...Depois - ao longo dos anos,

os encantos da cantiga,

nessa convivência amiga

das chiruas e paisanos,

aprendendo com os vaqueanos,

as artes de payador,

pra entender que o jogador,

é escravo do sem razão:

- canta "trinta e três" de mão,

pra ouvir um canto de "flor"!

 

Sem nunca ter me perdido,

vou indo - até não sei quando,

sempre tranqueando e pensando,

no que podia ter sido,

sobre o caminho comprido

que meu olhar não alcança,

sabendo que - nessas andanças,

tempo adentro e mundo acima.

 

Sem nunca ter me perdido,

vou indo - até não sei quando,

sempre tranqueando e pensando,

no que podia ter sido,

sobre o caminho comprido

que meu olhar não alcança,

sabendo que - nessa andança,

tempo adentro e mundo acima,

termino encontrando a rima

que extraviei - quando criança!!!