CACIMBA
Jadir
Oliveira
Vertente doce da serra
Que habita o ventre da mata
Como uma artéria de prata
Jorrando o sangue da terra
Que por tão sábia, não erra,
O ciclo da natureza
Nessa eterna singeleza
Vai se tornando uma aguada
Para que a lua prateada
Possa espelhar sua beleza.
E se torna bebedouro
Matando a sede dos bichos
Que choramingam cochichos
Com primícias de namoro
Teu manancial é um tesouro
Que “Tupã” deixou aqui
Quando em tua fonte bebi
Como que numa viagem
Recebi esta mensagem
De um ancestral guarani.
Meu filho diga a tua gente
Por toda a tua querência
Que é preciso ter consciência
E preservar a vertente
Do contrário brevemente
Teus irmãos irão sofrer
O ciclo vai se romper
Porque não foi respeitado
E o teu povo dizimado
Por não ter o que beber.
E assim, chegará a guerra,
A morte, a falta de crença,
Espalhando a desavença
Nos quatro cantos da terra
E a cacimba ao pé da serra
Que foi
alento e guarida
Transbordando pesticida
A lamentar sua sorte
Poe ter saciado a morte
Não pode ofertar a vida.
Repare quanta desgraça
O homem traz a si mesmo
Pois sai destruindo a esmo
Corta a mata, queima, caça,
Cada foco de fumaça
Que se avista no horizonte
É a floresta do ontem
Que será cinza amanhã
Enlutando de picumã
A água clara da fonte.
Na fúria desenfreada
Do dinheiro a qualquer custo
Que vai corrompendo o justo
Nesta cifra abarbarada
Deixa a alma anestesiada
Com brilho de falsa luz
O ouro, ao fraco conduz,
A conspirar contra o seu povo
Qual Judas de um tempo novo
Vendendo Cristo pra cruz.
Porém tudo ainda tem jeito
Se os donos desta querência
Num exame de consciência
Olharem o estrago feito
E num gesto de respeito
De humildade e grandeza
Verem que a maior riqueza
É a paz e a sabedoria
De viver em harmonia
Com as coisas da natureza.
E a cacimba de água pura
Deste jeito estará salva
Espelhando a estrela Dalva
No ermo da noite escura
E o que minha alma procura
Encontrei afinal
E a vida este manancial
Que “Tupã” legou pra gente
Terá na paz, a vertente,
Da cacimba universal!!!