Chimarrão

Iberê Machado

 

Pra fazer o mate amargo,
Erva nova de primeira.
Uma bomba, uma chaleira,
Uma cuia bem curada.
Garrafa térmica e nada
Mais precisa o chimarrista
Do que seguir nesta pista
Para iniciar a mateada.

Enquanto a água se aquenta
Até chiar na chaleira,
Encha a cuia, de maneira
Que a erva fique de um lado.
Ponha a água com cuidado
Pela borda do porongo.
Pouca erva é mate longo
E, muita, fica atolado.

Então o mate descansa
Até ficar bem cevado.
Que quer dizer bem inchado
Pra não dar entupimento.
A bomba, neste momento
Em que o dedão fecha o bocal,
Se coloca no local,
Evitando movimentos.
Chupe o mate até roncar,
Tomando ou botando fora.
Está cevado. E, agora,
Quem cevou toma o primeiro.
A roda é contra os ponteiros
E o mão toma o segundo.
E, depois, prá todo mundo
Até o sota, derradeiro.

Cada um recebe a cuia
E passa co’a mão direita.
O que agradece, rejeita,
E passa a ser preterido.
Aguarde pra ser servido.
Faça roncar, não é feio.
Não entregue pelo meio
Nem o devolva entupido.

Esta herança missioneira
É, certamente, o debuxo
Que identifica o gaúcho
No contexto da nação.
A erva do chimarrão,
Encoxilhada num canto,
É o pala verde Esperanto
Que recobre o meu rincão.