VELHO DUDA
Jorge Bicca
Ele nasceu nuns
“fundão”
Lá no passo da Taquara.
E numa convivência rara
cresceu cheirando a galpão...
Sempre de piola
na mão,
correndo atrás dos terneiros.
Pés descalços nos potreiros
e nos espinhos de juá,
ia aprendendo a laçar,
recém saído dos cueiros
Cresceu na lida de campo
e também de plantação,
fazendo brotar do chão
desta sagrada Querência
a sua subsistência,
pois na foice e no arado
ou lidando com o gado,
ele era professor.
Trabalhava com amor.
Honesto, bondoso, honrado.
Não tinha
necessitados,
Moços, velhos e crianças,
lá das suas vizinhanças,
que ficasse sem ajuda,
pois sabiam que o tio Duda
pra ajudar quem precisava
até a camisa tirava
estendendo a seu irmão.
Nunca não deixava na mão
alguém que necessitava.
Era um tradicionalista,
e um peão de respeito.
Despacito do seu jeito,
num flete de linda estampa,
era um centauro dos pampas.
Seu pingo bem encilhado,
sempre trazia do lado
outro amigo e companheiro,
inseparável parceiro,
um cusco bem ensinado.
Onde passava, deixava
respeito, amor, amizade,
pois no campo ou na cidade
era muito conhecido
e por todos muito querido.
Com as passadas serenas
ele que arrastava as chilenas
no seu jeito bonachão,
e ia estendendo a mão
enquanto falava: - Buenas!
Nas enchentes do Rio Pardo,
o seu flete era um dourado,
para retirar o gado
arriscando a própria vida.
porém, nunca nesta lida,
perdeu sequer um terneiro.
Mui calmo, porém ligeiro,
bem decidido e valente
dedicado e eficiente,
ele era flor de campeiro.
Mas como nada é eterno
nesta estância material,
eis que chegou ao final
a missão deste gaudério.
Uma cruz no cemitério
é o descanso merecido
de quem foi muito querido
e não viveu a vida em vão,
deixando exemplo e lição
de bom pai e bom marido.
Calou-se a voz do tropeiro.
Chegou ao fim da jornada.
Pingo solto na invernada,
cusco atado no
oitão.
Os aperos
no galpão.
A pilcha
jogada ao léu,
junto c´o mango e o chapéu...
São Pedro cria seu gado,
e o Duda foi convidado,
pra um rodeio lá no céu!
(Poema premiado no concurso
Literário do ENART/2008.)