Antônio tropeava ajenos
pelas curvas das estradas...
Tropa era apenas desculpa
pra poder fazer da vida
uma eterna caminhada,
sem chegada nem partida...
Uma única ilusão
dava ao Antônio, a certeza
de ser, a vida, uma roda
onde encontramos o início
sempre bem perto do fim...
E também, por ser assim,
sem rumo e sem sina
próprias,
pôde entender os que sofrem
- campeando o que não
perderam -
por estes tantos confins.
E perguntar-se quem era,
ou por que aqui estava?...
...jamais...e que santa
bênção!
Pois Deus, em sua plenitude,
concedeu-lhe ignorância...
...que é o saber dos que não
tem!...
E, por isso, é que o Antônio
cortava tempo e distâncias,
salgando o xergão nas ânsias
de nem compreender-se bem.
Mas pra’o Antônio, a
distância
era um vício, uma doença...
...e de tanto andar sem rumo,
sem ter um lá...um aqui...
sentiu, um dia, a distância
crescer por dentro de si...
Certeza...só tinha duas:
Empurrar boiada ajena
pela poeira das estradas...
...outra, a certeza final,
de que, um dia, ele seria
mangueado pra’o matadouro
onde a sorte nos aplica
a marretada fatal.
Ciência...tinha mui pouca:
Sabia que noite e dia
vem encordoado – um no outro
–
...que homem, cachorro e
potro
se tratam com muito jeito.
E sabia que o respeito
é um dom que poucos tem...
...media os atos e fatos
que não queria pra ele...
...e não os fazia a ninguém.
Materialismo...bem pouco...
...somente pra’o necessário:
Os avios da lida bruta,
um par de botas e esporas,
uma mala de garupa
com uma muda de roupa ...
...um sombrero de abas
largas
e um poncho-pátria emalado...
...qual um soldado tombado,
esvaído, degolado...
...co’a baeta colorada
enrolada de mortalha...
...como se a anca do pingo
imitasse o barbarismo
que há num campo de batalha.
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E hoje, a tropa perdeu-se
no longo ronco poluído
do motor movido a diesel
de um caminhão boiadeiro.
E que fim levou o
Antônio?...
...andará batendo estribo
pra alguma banda lejana?...
Ou, quem sabe anda – buerana
–
assobiando ao trote largo
de uma copla de andar só?...
...ou mesmo, fundiu-se ao pó
que tanto comeu na vida,
numa culatra de tropa,
pelos ermos das estradas?...
Ou, quem sabe, anda
extraviado
- perdido pelos caminhos -
como filho de avestruz?!...
Talvez, procure uma luz
da divindade, mandada,
que aponte o rumo e o norte
pra onde perdeu-se a
tropa...
...ou então, o pouso certo
que plantou tantos campeiros
abaixo da cabeceira
tosca e rude de uma cruz.
O paradeiro do Antônio
ninguém sabe...ninguém
viu...
...o mais certo é que partiu
na culatra da morruda
e perdeu-se no silêncio
que ecoa junto do grito
do “Venha boi!” – bem
marcado –
da garganta de um
ponteiro...
Deve andar batendo estribo
- cortando os rumos do nada
-
comendo a poeira da estrada
de alguma tropa perdida
em algum lá...ou aqui...
...nesta eterna caminhada,
sem chegada nem partida...
...exilado na distância
que cresceu dentro de si...