Um manojo de recuerdos
revive, longe do pago,
as mesmas velhas saudades
do que já tive e perdi…
…e os pensamentos transcendem…
Alço asas…
…e num sonho de retornar ao que fui,
tranço milongas nos dedos
das guitarras do meu ser…
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Encontro o bugre charrua
- que habita em mim -
gritando em noites de lua
na ode à incompreensão
dos seus costumes “selvagens”...
…e sinto o bradar das vozes
da matança e da barbárie
que, de tempos tão longínquos,
ecoam até agora…
Encontro o taura-andarilho
- melena…cara-tostada -
que traçou na geografia
um resumo do que sou…
…e me renova a vontade
de cortar os quatro-ventos
com a aba do sombrero;
e deixar marcas de cascos
pelas mesmas
sendas pátrias
que já cruzei no passado…
…no meu andejar sem rumos
à procura de mim mesmo…
Entretanto, como no passado,
cansei-me de tanto andar…
…e venho a nascer querência,
na simplicidade de não almejar ser algo
que já não houvera sido.
E um pequeno pórtico de sonhos
faz de mim um centauro-guardião
de um pequeno pedaço de universo de coisas minhas…
…ao qual chamei de pago…
…querência!
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Revivo a figura do meu pago…
…e as formas de um fortim
formado de pedras;
terreiro, mangueiras e
galpão
- aos quais meus sonhos
rodearam de lembranças -
fazem de mim - ao longe -
um simples eco do que já
fui…
…como um lamento…
E o mesmo nó na garganta
- sentido ao deixar meu pago
-
se faz presente comigo…
…nos intrínsecos caminhos de
mim mesmo…
…como um peçuelo guardado
na mala-de-garupa dos meus
sentimentos.
Retorno à simplicidade da
gadaria-de-osso
- como um marco de memória
à criança que já fui…
…o mate da tardezita à
sombra dos cinamomos,
os contados dos mais velhos,
as conversas de galpão,
as lidas do dia-a-dia:
Encilhar de manhãzita e sair
ringindo os bastos,
sentindo o cheiro dos pastos
aromando o coração…
…e a alvorada repontando um
restolho de estrelas
da tropa da noite…
…que já se foi…
Os apartes de mangueira,
a esquila, o carneador;
um longo ronco de mate
- onde troteiam solitos
meus pensamentos mais
livres…
…simplicidade terrunha
resumida em
harmonia...
E os cerros como querendo
endereçar um postal:
…marca-saudade…
…aos mais profundos lugares,
que a distância do meu pago
me fez conhecer em mim…
E sinto…
…como se cada flechilha,
cada flor de corticeira,
cada pedra do terreiro,
cada esteio do galpão…
…representassem um infinito
vazio-saudade
no meu proscrito exílio de
andar longe…
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Os arroios do tempo correm…
…correm para um sempre não-mais voltar;
e a criança que fui…que sou…sempre
serei…
…vive escondida em meu
peito,
à sombra do adulto
inconforme…
…como um diarista de mim
mesmo…
Minha querência mudou…
…os tempos também mudaram
e eu, não pude acompanhar.
E o mesmo bugre charrua,
e o taura cara-tostada
dos meus ancestros recuerdos
- póstuma residência em mim
-
quando a saudade se mostra
já não conseguem calar…
E por isso…
…um manojo de recuerdos
revive, longe do pago,
as mesmas velhas saudades
do que já tive e perdi…
E assim, nesses instantes,
a guitarra parafraseia
os sentimentos que trago…
E o coração se revolta com a
passagem dos tempos…
…a mudança nos eventos…
…o pensamento confunde,
cresce o aperto no peito,
vertem vertentes dos olhos…
…e o semblante ensombrecido
revelando a nostalgia…
E o manojo de recuerdos vai
crescendo despacito…
…e o tempo…este passou…
…eterno não retornar
…tanta saudade que tenho…