escravo
Sou escravo
da rima...
... ela me ordena!
De há muito
me condenou
- ainda me
condena -
a um
ostracismo lírico-terrunho...
... que tolhe meu espírito sedento
de voar -
livre - pelo branco do poema...
... de não aceitar o moderno-universal...
Sou escravo
da rima...
... minha invertida cruz de sal...
... um breve santo
que protege
somente ao escolhido:
Não adianta
procurar... ela procura!
Não basta
querer... ela é quem quer!
Não adianta
pedir... pois ela nega!
Sou escravo
da rima...
... ela me apega!...
... ela me ofusca!... ela me manda!
Sou apenas
um veículo,
a poesia me
comanda!
Sou singelo
tradutor... simples tropeiro...
... mero condutor...
... de idéias e palavras... peregrino...
Sou escravo
da rima...
... é meu destino!
Minha sina
de ser e de buscar...
... de andar pelos rumos da lira...
... teatino!...
... pelas sendas do sentir e perceber.
Sou escravo
da rima...
... amante da forma!...
... cultor da métrica!...
... amigo do saber!
Parnasiano
por obrigação!
Sinto o
mesmo que Bilac
- e isso me
transtorna -
também invejo o ourives quando escrevo!
Sou escravo
da rima...
... é meu apego!...
... e é necessidade de exprimir...
em meras
frases,
os sonhos que
não consegui sonhar;
as emoções que
não pude sentir;
a poesia que
nunca pude conceber...
... e os sentimentos que não soube dominar...
Sou escravo
da rima...
... é minha sina!...
... minha companhia...
... minha eterna necessidade.
Pois
escrever - para mim -
independe da vontade:
é como um
grande fardo que carrego,
verdadeira praga!...
... uma ferida aberta... uma maldita
chaga
que obriga a
dirimir sonhos e penas.
Esse é meu
rumo... ingrata sorte!...
... malogrado engodo do destino... apenas...
Nasci
escravo e vou morrer cativo,
da insensata
rima que me ofusca...
... doce amante que me abraça...
... mediador que me condena
a um
ostracismo lírico-terrunho...
... que tolhe meu espírito sedento
de voar...
- livre -
... pelo branco inatingível do poema!