TEMPO ANTIGO
Gonçalves Chaves Calisto
No tempo antigo patrício
Era muito diferente
O povo era mais contente
A vida tinha outro gosto
Se vivia mais disposto
Todo mundo mais amigo
De a cavalo
na fartura
Mais amor e mais ternura
Ah! Que bom era o tempo antigo!
Não existia maldade
O gaúcho era um monarca
O gado não tinha marca
Nem cercas nas invernadas
No rancho beira de estradas
Ninguém negava um abrigo
Fosse no campo ou cidade
Morava a hospitalidade!
Ah! Que bom era o tempo
antigo!
Na colheita era uma festa
Pois um ajudava o outro
Até na doma de potro
Sempre tinha um companheiro
Servindo de madrinheiro
Pra nos livrar do perigo
Disposto a tudo o que fosse
Até a fruta era mais doce
Ah! Que bom era o tempo
antigo!
Quando alguém carneava um boi
Nunca comia sozinho...
Mandava a cada vizinho
Um pedaço de presente
Pra que Deus onipotente
Não lhe mandasse um castigo
Tudo isso sem vaidade
Somente por amizade
Ah! Que bom era o tempo
antigo!
O campo era mais bonito
Tinha mais verde e beleza
Não sofria a natureza
Com a tal de poluição
A gente comia o pão
Tirado do milho e do trigo
Côas mãos plantava e colhia
Nem trator não existia
Ah! Que bom era o tempo
antigo!
Porém ao passar do tempo
Parece que tudo muda
Hoje ninguém dá uma ajuda
Pro vivente que padece
Quanto mais o mundo cresce
Quero entender... não consigo
Então eu me paro e penso
Cada vez mais me convenço...
Ah! Que bom era o tempo
antigo!
Quando vejo tudo isso
Francamente me apavoro
Sem querer às vezes choro
Lembrança antiga que trago
Me parece ver o pago
Lá no fundo do jazigo
Definhando quase morto
Que saudade do conforto
Ah! Que bom era o tempo
antigo!
Ah! Se eu pudesse
eu voltava
Pro tempo antigo de novo
Só para ver o meu povo
Mais alegre e sorridente
Queria ver minha gente
Cantando junto comigo
Num canto de resistência
E o grande amor a querência
Ah! Que bom era o tempo
antigo!
Mas continuo peleando
Até o último repuxo
Porque a fibra de um gaúcho
Pelo tempo perpetua
Um centauro não recua
De fronte erguida lhes digo!
Me remoendo de agonia
Meu grito é de rebeldia
Ah! Que bom era o tempo
antigo!
Ah! ...Patrício quando vejo
Um gaúcho peleador
Como um traste sem valor
Jogado à beira da estrada,
De bombacha
remendada
Sem bota!... Igual um
mendigo,
Sem querer eu grito e peço...
Vá pro inferno o progresso!...
Ah! Que bom era o tempo
antigo!