O RIO GRANDE E O GAÚCHO

Gonçalves C. Calixto (Cabeleira)

 

O Rio Grande caro patrício

Não é apenas um Estado

Que nasceu acolherado

Com o Brasil, grande e forte...

O Rio Grande ´é suporte,

Sempre agüentando o repuxo,

Pedaço de chão sem luxo

Que Deus um dia inspirou-se

E criou para que fosse

A querência do gaúcho.

 

Sim senhor, foi desse jeito,

Que Deus com saber profundo

Senhor, criador do mundo,

Com os seus poderes tantos

Convocou todos os santos

Trazendo um mapa na mão

E disse... Quero atenção...

E façam tudo que eu mande

Vamos criar o Rio Grande,

A terra da tradição.

 

E depois abrindo o mapa

Que na santa mão trazia

-Este é o Brasil, Deus dizia,

Mostrando no mapa um traço,

-Bem aqui neste pedaço

Eu quero um pago pe4rfeito

Onde a honra e o respeito

Se misture à fidalguia...

E conforme ele queria

Surgia o Rio Grande feito.

 

Quero campos verdes, planos,

Com rios, lagos e sangas,

Carretas e bois de cangas

As canhadas e coxilhas,

Mal-me-quer e maçanilhas

De uma beleza tamanha,

Para enfeitar a campanha

No mais sublime capricho,

Foi inventado o “bolicho

 

A bocha a “tava” e canha.

E surgiu o quero-quero

O guardião da pampa enorme

Que noite e dia não dorme

Pois para rondar nasceu,

Em seguida apareceu,

A paca, avestruz, tatu...

E pra dar o gosto cru

No mato à beira da sanga

O guamirim, a pitanga,

A cereja e o guabiju.

 

Aos poucos moldou-se o pampa

Perfeito, ponto por ponto,

E vendo o Rio Grande pronto

Deus que a tudo observava,

Notou que ainda faltava

No pago que ele fizera,

A estampa nobre do qüera

Da mais fidalga imponência,

Sendo o senhor da querência

Pra que não fosse tapera.

 

E disse o patrão do céu

Na sua divina graça...

-Agora eu quero uma raça,

Que tenha seu nome eterno!

Pegando um moerão de cerno

Fez um falquejo na casca

Depois tirou uma lasca,

Continuava falquejando

Até que foi se formando

Do cerne nasceu o guasca!

 

Colheu ainda uma flor

A mais bela do jardim

E fazendo um gesto assim,

Criou a mais bela prenda

Com seu vestido de renda

Altiva, meiga, bravia...

Criada no mesmo dia

Da mesma estirpe campeira

Para ser a companheira

Do gaúcho que nascia.


 


Ainda deu pro gaúcho...

Botas, bombacha e chapéu,

Cavalo, laço e sovéu,

Tirador garrucha e faca.

Pra cintura uma guaiaca,

Lenço, espora no garrão,

Adaga e lança na mão,

Boleadeira de reserva,

Cambona, a bomba e a erva...

E a cuia pro chimarrão.

 

Deu-lhe o pala, o cusco amigo,

Poncho, cordeona e violão,

Depois soprou um tufão,

E criou o vento Norte,

E tornou soprar mais forte,

Um vento frio, aragano,

Que deu vida pro pampeano

E uma têmpera bravia...

O vento que então nascia,

Foi chamado “Minuano”.

 

O Rio Grade e o gaúcho

Estavam prontos, finalmente,

Olhando a obra contente

Disse o soberano pai!

Gaúcho! Monta e te vai,

No lombo do teu bagual...

Para formar o casal

Leva a prenda na garupa

E como um monarca, ocupa

A pampa meridional.

 

E o guasca chegou semeando

A semente que trazia...

A própria terra paria

Ginetes e laçadores,

Os gaudérios lutadores,

Fazendeiros, peões de estância,

Não dando à vida importância

Nem ao intruso, clemência,

 

Surgiram tribos selvagens

Cada qual mais imponente

Eis que aparece um valente

Cacique bugre nativo,

Meteu o pé no “estrivo

Fez do cavalo seu trono,

Gritando com bravo entono

Com toda força que tinha

Para o invasor que vinha

Que o pago já tinha dono.

 

E assim nasceram tantos...

Tapes, Canabarro, Honório...

Tão valentes quanto Osório,

Bento Gonçalves, Onofre...

Até hoje o pago sofre

Quando lembro o velho “Flores”

Um condor entre os condores,

A história é testemunha

Que foi o Flores da Cunha

O terror dos invasores.

 

O Rio Grande e o gaúcho

Desse jeito que surgiram

-Foi assim que se fundiram...

-Foi assim que se forjaram

-Foi assim que sempre andaram

E assim queremos que ende...

E não sendo que Deus mande

Esse amor não se termina

Enquanto existir a china

O gaúcho e o Rio Grande


Defendiam a querência

Fosse em qualquer circunstância.