ORIGENS

Gonçalves C. Calixto (Cabeleira)

 

Eu venho de outros tempos

Diferentes dos de agora

Cruzei o Rio Grande á fora

Deixando rastro e sinal

Este meu jeito bagual

Foi sempre do meu feitio

Herdei de quem me pariu

Esta altivez missioneira

Por não respeitar fronteira

Me criei meio arredio!

 

Me vim bebendo distâncias

À procura de outros rumos

Trazendo junto, resumos,

De coisas que lá ficaram

E tudo que me ensinaram

Eu carreguei na bagagem

E fiz da vida uma viagem

Sem pressa... sem atropelo,

O que trouxe no pessuelo

Eu transformei em mensagem.

 

Nos lugares que cruzei

Fui mostrando o que sabia

Ensinava... e aprendia...

Porque a vida é sempre assim

Foi deste jeito que vim

Pela vida atrotezito

Fui me cansando aos “pouquitos

Da vida que então levava

E ás vezes até pensava de

De não viver mais solito...

 

Um dia dei com os costados

Nos lindos pagos da serra

E foi então nesta terra

Que conheci uma serrana

Xirua raça italiana

E eu bugre, missioneiro,

Criado solto em potreiro

Tomando banho em restinga

Pensei em pealar a gringa

Mas fui pealado primeiro.

 

E eu que vinha solito

Já me senti acolherado

Veio o namoro, o noivado,

Em seguida o casamento

E desse entrelaçamento

Aos poucos foram surgindo

Cada filhote tão lindo

Que cada um que nascia

Para mim me parecia

Ver o Rio Grande surgindo.

 

Nasceu a Kátia primeiro

Logo depois a Luciana...

Veio depois a Bibiana

Depois um macho, o Rodrigo...

E para dar-lhe um amigo

Logo o Alexandre veio

De pingo alçado no freio

Num jeito de Tapejara

Em “seguidito” a Jussara

Pensei... pronto o rodeio...

 

E foi então que tivemos

A mais alegre surpresa

Eis que surge uma princesa

Que o Rodrigo nos trouxe

Foi a doçura mais doce

O mais sublime presente

Chegou assim de repente

Na vida desta poeta...

A Mônica...minha neta...

Que tomou conta da gente.

 

E hoje, quando contemplo

Esta família que temos

Eu comparo os dois extremos

Que formou esta mistura

Raça clara... raça escura...

Que entrelaçada se ermana

Eu bugre, ela italiana,

Só poderia dar nisso

Um sangue meio mestiço

Raça fronteira e serrana.


 

E vendo todos criados


Eu olho pra china e penso

Que o mesmo orgulho imenso

Que eu sinto, ela sente,

Pois vejo na nossa frente

A nossa obra mais bela

Olho pros “filhos”, pra ela,

E fico pensando assim...

Alguns puxaram por mim

Outros, têm o jeito dela...

 

Então eu volto ao passado

Pra ver como se deu

Tudo isso aconteceu

Só porque um certo dia

Eu me mandei “a lá cria”

Deixando a região pampeana

E vim pra terra serrana

No lombo do meu cavalo

E aí me enredei no pealo

Do olhar de uma italiana.