ORGULHO DE GUASCA
Cabeleira
Eu recebi um convite
Que caiu no meu agrado,
De um amigo estimado
Por sinal era chimango,
Porque eu gosto de dançar,
Não era pra mim faltar
Pra arrastar o pé num
fandango.
Encilhei o meu cavalo
E lá no salão cheguei,
Mas quando na porta entrei,
Quis falar, tremeu-me a fala,
Vi uma prenda tão bonita
Com seu vestido de chita,
Era a mais linda da sala.
Naquele instante o gaiteiro
Tocou uma valsa mui bela,
Eu convidei a donzela
Aproveitando a ocasião,
Ela disse,
cavalheiro,
Sou filha de fazendeiro,
Não posso dançar com peão.
Nesta hora perdi a calma
E respondi,
você dança,
Senão eu te corto a trança
E surro quem se doer também,
Vai ser o maior perigo,
Se tu não dançar comigo,
Não dança com mais ninguém.
Um guasca que estava perto
Ficou brabo, não gostou,
Desta maneira, falou:
“Tu não ofende
a donzela”
que será melhor assim,
primeiro peça pra mim
pra depois dançar com ela”.
Peguei ela pela nuca
Dei-lhe um baita pescoção
Arranquei do meu facão
Fiz outro virar cambota,
Gritava outro num canto.
Divino Espírito Santo
Me falta o garrão da bota.
A prenda que tudo via
De repente entrou no meio
E disse, parem esse enleio,
Ele é um, vocês são mais,
Para que fazer intriga
Vamos parar esta briga
Eu vou dançar com o “rapais”.
Todo o mundo recostou-se
Acalmou-se todo o povo,
Começou tudo de novo
Com um xote
bem largado,
Eu disse p’ra ela, é agora,
Dancei de pala e de espora
Sapateando pros dois lado.
Lá pelas tantas do baile
A prenda num tom de choro,
Quis me falar em namoro
Eu respondi com clareza:
-Nunca, prenda: Você fica,
Tu és fazendeira rica
Eu vou com minha pobreza.
Ela, já no desespero
Me dizia, por favor,
Só por ti eu tenho amor,
O meu pai é fazendeiro,
Quero me casar contigo,
Você casado comigo
Será o único herdeiro.
Olhei pra orgulhosa prenda
E deste jeito respondi:
Embora eu goste de ti,
Mas vai ter que ser assim,
Não esqueças que primeiro
Por causa do teu dinheiro
Fizeste pouco de mim.
E quando rompia a Aurora
Botei os trastes no pingo,
E a prenda, num choromingo,
Perto de mim soluçando,
Cravei no Picasso, a espora,
E sumi Rio Grande a fora
E a prenda ficou chorando.