GAUDÉRIO
Gonçalves C. Calixto (cabeleira)
Gaudério é o índio que andeja
Daqui pra ali na querência,
Desfrutando a convivência
Com todo o tipo de gente,
È o xiru,
quebra valente,
Que nunca teve parada...
Vive a repontar na estrada
O passado pro presente.
É o qüera
que vive solto
Tal e qual o pensamento
É o sopro forte do vento
Que na cerca bordoneia
Enquanto o taura cesteia
Deitado em “riba” a encilha
É o índio em pé na coxilha
Disposto pra uma peleia.
Gaudério é o peão andarilho
É o andante... é o caminheiro...
É o cruzador missioneiro...
Que a passos lentos avança,
É o choro de uma criança
Porque a chupeta perdeu,
E abandonado, cresceu,
Sem perder nunca a esperança.
Gaudério é o viajante livre
Senhor do próprio destino
O cruzador campesino
Que cresceu no abandono
Não tem senhor nem patrono
Que lhe governe ou lhe mande
Só tem amor ao Rio Grande
E ao pingo do qual é dono.
É campeador de futuros
É o tropeiro de repontes
Que vai cruzando horizontes
Na noite clara ou escura
No seu olhar tem ternura
Estoicismo e persistência
Vai de querência em querência
Sem saber o que procura.
É o vaqueano das coxilhas
O ronda do corredor
Peão de estância...domador,
É pajeador
jundo ao pinho,
Mesmo vivendo sozinho
É difícil que se perca
Só sente raiva da cerca
Porque lhe corta o caminho.
Gaudério é o índio liberto
Senhor de tudo que avista
É o cantador nativista
Que nos versos se esparrama
Cantando em canções, o drama,
De uma vida “reculuta”
É o guasca pronto pra luta
Quando o Rio Grande o chama!
Eu também que gaudereio
Pronta a ponta este universo
De acavalo no meu verso
Que todo gaudério
inclui,
O direito não me exclui
De manter este critério...
Meu verso eu faço gaudério
Do mesmo jeito que eu fui.