DOIS XIRÚS
Cabeleira
Ali naquela coxilha,
Perto daquele capão,
Tem uma cruz de facão
Simbolizando esta história.
No tempo em que uma vitória
Quando dois guascas peleavam,
Era confiança no braço,
Vergonha... estava no aço...
Do facão que manejava.
Este fato aconteceu
No bolicho
do seu Chico.
Quando me lembro “Xô Mico”
Parece mentira minha
Que eu assisti aquela rinha
Num domingo de sol quente
Quando dois “Índios” em seus “Potro”
Sem nenhum conhecer o outro
“Bolearam” a perna na frente.
Entraram de porta á dentro,
E se oitavaram no balcão,
Por farra um puxô o facão
E bateu contra a parede,
Dando um grito, tô com sede
Me dá uma canha vivente...
O outro ouvindo o estouro
Disse: Isso é desaforo,
Que ninguém faz na minha
frente.
E já arrancou da cintura
Um facão deste tamanho
E saiu abrindo lanho
Sobre o outro indiosito
Que se defendeu bonito
E já pularam
porta a fora
Do tirador voava os fléco,
E bem na porta do buteco
Ficou um pedaço de espora.
Se
espalharam os cavalos
Que se encontravam na frente
Aquele monte de gente
Foi se
espalhando prós lados
E os dois índios grudados
Num duelo de sair lasca
Ninguém apartava a luta
Porque ali era a disputa
Da raçla
e fibra de um guasca.
Cruzaram num corredor
Se foram “p’rum” descampado
O pessoal ficou parado,
Ninguém falava, apreciando,
E os dois facões relampeando
Batiam pra lá e pra cá.
Se ouviam os ferros tinindo
E os dois se cortavam rindo,
Como em brinquedo de Piá.
Subiram pela coxilha
Desceram num canhadão,
Subia poeira do chão
Batia carqueja ao peito
E os cuéras
do mesmo jeito
Nesta luta encarniçada
Se ouvia trovejar os ferro
Mas não se escutava um berro
De dor de alguma pancada.
Descambaram na coxilha
Só se escutava o barulho
Voava grama, pedregulho...
Que chegava tremer a terra
Parecia até uma guerra
Estes dois guapos brigando
O povo aguardava ansioso
Pra ver qual o vitorioso
Destes dois xirús peleando.
De repente parou a luta
Voltou o silêncio ao normal.
Foi se chegando o pessoal,
Pra ver o que tinha se dado.
O povo ficou pasmado
Por ver os cuéras de tal jeito,
Tinham ambos se matado
Morreu os dois abraçados
Com o facão fincado no peito.
Ali não houve vitória
Cada um mostrou sua raça,
Morreram com ar de graça,
Que o povo se admirou
Muita gente comentou
Que talvez riram
morrendo
Há um mistério verdadeiro
Qual dos dois feriu primeiro
Que ninguém ficou sabendo.
Até hoje ninguém soube
O nome das criaturas,
Cavaram as sepulturas
Porque era obrigação,
Fizeram a cruz com os facão,
Amarrada a tento cru.
Uma só cruz para os dois;
E escreveram depois
“Descansa aqui dois xirus”.
É ali naquela coxilha
Perto daquele capão;
Que tem a cruz de facão,
Simbolizando esta história,
Do tempo que uma vitória
Quando dois guascas peleavam
Era a confiança no braço
A vergonha estava no aço
Do facão que manejavam.