CHEGA DE FANDANGO

Autor: Cabeleira

 

Eu que sempre fui gaudério

Certa feita ia viajando

De longe fui avistando

Num rancho á beira de estrada,

Um fandanguito enfezado,

E eu... Sem ser convidado,

Cheguei, sem saber de nada.

 

Atei o pingo na frente

Porta a dentro fui entrando,

Tava lá dentro apreciando...

Me veio um qüera e falou...

Carancho da tua iguala

não entra aqui nesta sala

pois ninguém te convidou”.

 

Quando ele disse aquilo

Eu ia me retirar,

Mas depois peguei pensar

E gritei. “É desaforo”

Eu honro este par de espora,

Pra me botar pra fora

Terão que cortar meu coro.

 

Foi um zum-zum pelos cantos

Quando acabei de dizer,

E já vi a coisa ferver,

Um pulou e gritou: “Para!

Quando eu quis entrar no bolo

Um pedaço de tijolo

Me cruzou raspando a cara.

 

Dali a pouco já se ouvia

Lá pelos cantos da sala,

Quebrar bela, estalar bala,

Voando cepa de tamanco,

Me veio um tal de Chicão,

Deu-me um tapa, meu irmão,

Passei por baixo de um banco...

 

Eu já procurava a porta

Quando chegou um por traz

Nem queira saber rapaz,

Me uma no ouvido...

Enxerguei tudo bem preto,

Vomitei até um galeto

Que a pouco tinha comido.

 

Tinha a mulher do gaiteiro,

Uma tal Chica Manuela,

Fiquei com “uma raiva dela”

Eta mulher desgraçada

Passou a mão num sapato

E me largou na fachada.

 

Eu ia me defendendo

Até que encontrei um jeito,

Saí num buraco estreito

Que nem sei como saí,

Veio um tal de João da Grota,

Me meteu um pé de bota,

Cheguei berrar e caí.

 

Fui meio de quatro pé

Até que me levantei.

No meu cavalo montei,

Me fui, arrancando grama,

Depois disso, por favor,

Nem queira saber que dor,

Passei quatro meses de cama.

 

Agora já me curei

Mas lembro todo o passado,

Pois tenho o corpo marcado

De tanta tala de mango.

Depois daquilo... parei...

Baile?... Nunca mais cheguei

Pra mim chega de fandango.