CHIMARRÃO

Glaucus Saraiva

 

Amargo doce que sorvo

num beijo em lábios de prata!

Tens o perfume da mata

molhada pelo sereno.

E a cuia, seio moreno

Que passa de mão em mão

traduz no meu chimarrão

em sua simplicidade,

a velha hospitalidade

da gente do meu rincão.

 

Trazes à minha lembrança,

nesse teu sabor selvagem,

a mística beberagem do

feiticeiro charrua

o perfil da lança

nua encravada na coxilha,

apontando, firme, a trilha

por onde rolou a história;

empoeirada de glória

da Tradição Farroupilha.

 

Em teus últimos arrancos,

no ronco do teu findar,

ouço um potro corcovear

na imensidão do pampa!

E minha mente se estampa,

reboando dos confins,

a voz febril dos clarins

repenicando: Avançar...

Então me fico a pensar,

apertando os lábios assim,

que o amargo está no fim,

é o sangue de 35

que volta verde pra mim.