TROPEIROS DO TÚNEL VERDE
Getúlio Abreu Mossellin
Um dia me perguntaram;
Onde fica o túnel verde?
Fica pros lados da praia,
Pras bandas do litoral,
Nem conheço este animal,
Nem tão pouco sua cor,
Mas lhes digo sim senhor,
É uma distância baguala.
Em 17 de julho do ano de 97,
Se mandamo estrada a fora.
Só o tirim tintim de esporas,
Ouvia-se de madrugada
E os cascos da cavalhada
Completavam o compasso.
Da ferradura de aço
No ínicio desta jornada.
A água caia frouxa
Numa garoa guasqueada
Sobre a capa da peonada
Estendida nos arreios.
E os pingos atirando o freio,
Mas nós
seguia com fé,
Até a
hora do café
O tempo estava feio.
De meio-dia a sesteada,
Mas bem a moda campeira,
Pão e café de chaleira
E carne com revirado,
Depois de bucho forrado,
Largamo já novamente,
No rumo do sol nascente,
Quatro gaúchos montados.
Carcamos casco até a noite,
Deixando terra pra trás,
O Paulo de capataz,
O Carlos foi de vaqueano
E bem no estilo pampeano,
O Darci, peão de primeira
O Getúlio é da fronteira
Quatro tropeiros araganos.
No outro dia bem cedo
Botemos os ossos de pé.
Já preparei o café
E requentei o assado.
De pingo bem encilhado
E alegres como gurí,
Sesteamos em Capivarí
Deixando os cavalos atados.
De meio-dia pra tarde,
Montemos e fomos embora.
Assoviando estrada a fora
E o cansaço foi chegando.
Um cavalo já mancando
E o resto meio cansado,
Suando e meio estropiado
O túnel foi avistado.
Chegamos lá na fazenda,
E fomos bem recebidos,
Por um casal destemido,
Era o patrão e a patroa.
Era flor de gente boa,
Nos
receberam no galpão,
Já fiz logo um chimarrão
E já começou a garoa.
No outro dia o retorno,
Deixamos o litoral,
No rumo da capital,
Agora com seis cavalos
E viemos tirando o talo
Até a hora da sesteada
Com resto de carne assada
Que passamos no gargalo.
De tarde o bicho pegou,
E a chuva velha caiu.
Não se ouvia um assovio
Do bico da peonada.
Não encontramos pousadas
Naquela chuva forte.
Mas num ginásio de esporte,
Dormimos em cama molhada.
Daí o último dia,
Deste tropeada sem fim,
Que só restou para mim
E os outros companheiros.
Nossa estirpe de tropeiro,
Deste Rio Grande buenacho
A gente esquece o cansaço
Quando tem bom companheiro.
Desta tropeada ficou
Lembrança e recordação.
A roda de chimarrão,
A prosa e a risada.
O pouso a beira da estrada,
O churrasco e a canha,
Bem no estilo da campanha,
OIGALÊ, cavalgada!