PINGO FARRAPO
Getúlio Abreu Mossellin
Deu cria a égua moura,
Um potrilho tostado,
Estrela e de pé cruzado,
Foi crescendo despacito
E se parando bonito.
O pêlo é uma seda
Parece uma labareda
Quando dispara solito.
Quando fez dois anos e meio,
Mandei domar o bagual,
Já lhe botaram o bocal
E o queixo foi quebrado.
Mas já era amanunciado
Por isso nem corcoveou
Quando a cincha apertou
Ficou quieto, parado.
Paulo Costa o domador,
Peão que entende da lida,
Vai ensinando em seguida
Se virar para os dois lados,
Pra depois ser enfrenado
Com muito jeito e carinho
Ficou um pingo bem mansinho
Animal flor de domado.
Botei-lhe o nome FARRAPO,
Tirado da nossa história,
De um passado de glória
Do Rio Grande abarbarado.
Um nome que foi copiado
De um cavalo ponteiro.
Do comandante altaneiro.
O velho Bento Gonçalves.
Não vou castrar meu cavalo,
Fazer sangria é um pecado,
Porque um cavalo castrado
Perde todo o seu vigor,
Vou deixar como pastor,
Do jeito que veio ao mundo,
Pra eu não sentir no fundo
A mágoa de castrador.