PAGO TRANSFORMADO
Getúlio Abreu Mossellin
Quando visitei meu pago,
Não vi gado na invernada,
Só vi terra tombada,
Pra cultivar soja e trigo.
Aí, eu pensei comigo:
O progresso aqui chegou...
E minha visão mostrou,
Que o peão virou mendigo.
Não vi ranchos fumaceando
Pelo cano do fogão.
O mato virou capão,
Por causa da derrubada.
Não avistei revoada,
De corvo e quiri-quiri.
Do tempo bom de guri
Se perdeu, não tem mais nada.
Não há potros velhaqueando
No rumo do banhadal.
Que a cachorrada fazia,
Nem o macho que grunhia
Sobre o mau tempo da guaxa.
Só o homem de bombacha
Que deste pago é cria.
Cadê as grandes
estâncias, De quadras de sesmarias?
E a avestruz que comia
Fruta de juá com espinhos?
Eu fico a pensar sozinho...
Que saudades que me dá
Do bom tempo de piá
Que lembro com carinho!
Não vi as moças passeando
De tilburi ou a cavalo.
Não ouvi do "reio"
o estalo
Da mão do homem campeiro.
Não vi vacas no potreiro,
Pra ordenhar de madrugada.
Nem a guampa de coalhada
Pendurada no queijeiro.
E as estâncias do passado
Tomaram conta os herdeiros.
Venderam vacas, terneiros,
Se meteram a plantador,
Com diploma de doutor,
Pensam que sabem de tudo,
Eles são cheios de estudo.
Mas não sabem o que é suor.
Cadê a seriema cantora
E o grito do graxaim
E o casarão de capim
Bolicho a beira da estrada
Onde a "bóia" era
pesada
Na balancinha de gancho
E o truco de carancho
Que jogavam por risada.
Na sanga não tem mais
peixe...
Cadê o tatu e a mulita?
Só o grito da caturrita,
Devorando o milharal.
E o veneno mortal
Liquidando a natureza,
Tirando toda a beleza,
Desta pampa sem igual.
Voltei entristecido,
Mas devo me conformar.
Não posso me acostumar
Ver tudo modificado.
E aqui fica o meu recado
Com grande aborrecimento,
Por isso muito lamento
Ver meu pago transformado.