GURI CAMPONÊS
Getúlio Abreu Mossellin
Peço licença indiada,
Vou contar a minha vida,
Da minha querência querida
Na campanha do Alegrete.
Digo-lhes, fui até ginete,
De matungo e de terneiro
E por ser guri arteiro
Levei muito do porrete.
Com oito anos de idade,
Eu ia botar vaca,
Atar sogueiro na estaca
Pra recolher a cavalhada
E sair de madrugada,
Juntar os bois pro arado,
Muitas vezes encarangado,
Nos campos
branco de geada.
Depois que unia os bois,
Ia buscar o café
E já não sentia os pés
Da friagem que fazia.
Daquela geada fria
Que o sol ia derretendo
E assim, eu fui crescendo
Naquela lida bravia.
Lá na campanha é assim,
A lida começa cedo,
Mexendo com o bicharedo
Trazendo as vacas pra
mangueira,
Misturadas com as tambeiras
Que se vai amanunciando,
De vereda se amansando
Pra virar vaca leiteira.
Fui crescendo sem estudo,
Sempre na lida pesada,
Pé no chão, mão calejada,
Da capina e do machado,
Da foice e rabo de arado,
De sol a sol trabalhava,
Só no domingo folgava,
Para brincar com meu gado.
Sempre morei na campanha,
Fazendo cerca em banhado,
Guri de garrão rachado
Carreteiro e lenhador,
Piá de estância e lavrador
Obediente e bem criado.
Quando levava um recado
Sempre cumpria a rigor.
Aqui fecho a cancela
Desta poesia sem luxo,
Escrita por um gaúcho,
Que mal aprendeu a ler.
E muito pouco escrever,
Apenas alguns
bilhete,
Pois sou cria do Alegrete
Rincão que me viu nascer.