DIA DE CHUVA NA ESTÂNCIA
Getúlio Abreu Mossellin
O dia nasceu sisudo
O sol não apareceu
E um trovão se perdeu
Nos confins do firmamento
E um chuvisqueiro lento
De mansinho foi caindo
Chão
adentro foi sumindo
E o pátio ficou barrento.
Há muitos meses não chove
Por estas bandas, Patrício!
Pois a chuva é um munício
Que não pode nos faltar
Ela vem alimentar
O pasto e a plantação
O açude e o sangão
Que por pouco iam secar.
Depois que a chuva começa
O tatu salta da toca
O quero-quero arranca minhoca
No potreirinho da frente
Dá uma alegria na gente
Ver a pastagem brotar
E a sanga transbordar
Até no passo, dá enchente.
O gado sobe a coxilha
Como a dizer, obrigado,
Ao grande Patrão Sagrado
Que nos criou, e não erra
A vaca, o terneiro berra
O cavalo escaramuça
E o aguaceiro se debruça
Sobre o lombo da terra.
É lindo ver o bicharedo
Comendo a grama verdinha
Os patos, ganso e galinha.
Também deixam o galinheiro
Os porcos saem do chiqueiro
Pra fuçar nas batateiras
Onde ontem tinha poeira
Hoje virou atoleiro.
Mas é quase meio dia
A peonada no galpão
Uns tomando chimarrão
Outros consertam arreio;
Por causa do tempo feio
Nem foi feita a recolhida
Pois não saíram pra lida
Nem deu pra parar-rodeio.
Depois da bóia, a peonada
Pega no cabo da cesta
Com esta chuva, só o que
resta!
É dar uma cochilada
Depois é dar uma espiada
Se o tempo velho se abriu
Mas a seca se sumiu
Aqui no pago, moçada!
Dia de chuva na estância,
Meu patrício que beleza
A chuva é a certeza
De que a vida é de fartura
Pecuária e agricultura
Crescem da noite pro dia
Parece até uma magia
Pra quem sofreu com a secura.