DE PEÃO PARA PEÃO
Getúlio Abreu Mossellin
Templados por muitos sóis,
De tanto inverno e verão.
É a vida do velho peão,
Cuidador de coisas alheias.
Trás sangue negro nas veias
O trabalhador campeiro.
Um gaúcho verdadeiro
E um laçador de mão cheia.
Eu falo do tio Antônio,
O Antônio, peão de estância.
O encurtador de distância,
Nos cascos de seu cavalo.
Tiro de laço e pealo,
Foi mestre quando mais novo.
Mais tarde veio pro povo,
Sem perder o timbre de galo.
Nasceu lá em São Francisco
E se criou em São Vicente.
Na doma muito experiente
Quando montava um crinudo,
Um ginete macanudo,
Desses de surrar cruzado,
Que no lombo enforquilhado
Passa por cima de tudo.
Conhecedor de cavalos
Como poucos que já ví,
Pois sabe desde guri,
Tirar as baldas e manhas.
E os serviços nas cabanhas,
Que conhece bem de perto,
Criou-se no campo aberto
Na imensidão das campanhas.
É o tio Antônio Merque:
O tropeiro, o alambrador,
Capataz e esquilador.
Sempre na lida pesada,
O cruzador da estrada
O peão por dia ou mensal.
O dobrador de bagual
Homem das mãos calejadas.
É um amigo que tenho,
O tio Antônio buenacho,
De chapéu com barbicacho,
De bombachas arremangada,
Par de alpargatas surradas
Ou até de pés no chão.
É a figura deste irmão,
Pessoa muito estimada.
Além de cuidar de cavalos,
O capricho á sua marca,
Já conta na sua tarca
Muitos e muitos janeiros.
Educado e hospitaleiro,
Homem de toda a confiança.
Trava
velhos e crianças
Bem no seu jeito campeiro.
Eu tenho muito respeito
Por este grande gaúcho.
Um homem humilde e sem luxo,
Que conheci certo dia.
Por gostarmos de poesia
Empardamos nesta lida.
É o que conta, nesta vida,
É uma amizade sadia.
E aqui termino este verso,
Que veio da inspiração.
É verso de peão pra peão,
Simples, rude e galponeiro.
Tal qual cambona e braseiro
Aquentando água pro mate,
E assim faço o arremate
Homenageando um campeiro.