COZINHEIRO E ASSADOR
Getúlio Abreu Mossellin
Toda vez que se reúne,
A gauchada campeira,
Vão aquentando a chaleira,
Pra tomar o mate amargo
E surge um grito a lo largo:
Faz uma carne assador.
Seja frio, seja calor
Ele sabe seu encargo.
Faço o fogo, limpo espeto,
E já bota a carne pra assar.
E nunca falta um piá,
Pra pedir um pedacinho,
Pode ser meio gordinho,
Pra tirar o gosto da boca
Porque a fome é china louca
Que vem rondar nosso ninho.
Me sapeco, me enfumaço,
Me tapo de judiaria,
Sou assador e sou cria
Do Rio Grande pêlo duro,
Já assei carne no escuro,
Em tropeadas e andanças
E sei desde criança
Esta lida,
lhe asseguro.
Quando o churrasco está
pronto,
A gauchada se atraca.
Chega chairando a faca
Pra carne magra ou granito.
E o capataz prega o grito:
Trás a farinha seu moço,
Pra misturar com sal grosso
Este tempero bendito.
Faço arroz de carreteiro,
Abobrinha e guisado,
Do aipim faço ensopado
Com caracu e granito,
É meu prato favorito,
A base de vinho e pão
Sento perto do fogão
E vou comendo despacito.
O assador é uma peça,
Fundamental numa festa.
Pois está sempre na testa
Da ardente churrasqueira.
Carvão ou lenha de aroeira,
Assa uma
carne ligeiro.
É aí que o churrasqueiro,
Faz uma carne de primeira.
Assei carne, fiz a bóia.
Só sobrou, espeto e panela.
Passaram tudo na goela.
Assim fico satisfeito,
Tudo no maior respeito
Entre peão e capataz.
Pois o gaúcho é de paz
E vive assim deste jeito.