CACIMBA
Getúlio Abreu Mossellin
Esta cacimba enterrada
No costado do barranco,
E eu, guri de tamanco
A minha sede matei
E muita
água, arrastei.
Na velha pipa campeira,
Sob a forquilha de aroeira,
Madeira forte de lei.
Cacimba de água boa,
Olho d'água
resistente
Que mata a sede da gente,
Nestes dias de calor.
Que faz brotar o suor,
Na testa de um peão campeiro.
Oigalê verão matreiro,
Pra quem enfrenta o rigor.
Apesar da seca grande
Jamais nos deixou na mão.
Mesmo nos meses de verão,
Até o açude secava,
A sanga não agüentava,
A água toda sumia.
Mas tu ali resistias
Com tua vertente braba.
Cacimba, tu deu água,
Puxada a casco de boi.
Pra nós, cacimba, tu foi,
Fonte de vida e saúde,
Recuerdos da juventude,
Que jamais esquecerei.
Por isso que registrei
Nos versos de um índio rude.
Nas paredes da cacimba
Brotam flores e avencas.
Da pitangueira as pencas
De pitangas bem vermelhas.
Até o rebanho de ovelha
Que vem beber na vertente
Da tua água excedente,
Que jamais se assemelha.
Vertente, cacimba, sanga,
Restinga, rios e oceanos.
Que depois de muitos anos
Eu contei a tua história
E que guardei na memória
Pra revelar no futuro
Pro Rio Grande pêlo-duro
Feito a casco, lança e glórias.