ALAMBRADOR

Getúlio Abreu Mossellin

 

Quando vejo um alambrado

Feito à pá e socador

Me lembro do alambrador

O índio do braço forte

Cercados de sul a norte.

Das quadras de sesmaria,

A cerca que tu fazia,

Permanecem firme e forte.

 

Acampados pelos campos

Na sua carreta toldada.

Sempre perto de uma aguada,

Por ali permaneciam

Passando dias e dias

Pegando chuva e mormaço

E dormindo longe dos braços

Da china que mais queria.

 

Levanta de madrugada,

Pra tomar o chimarrão,

Bota cozinhar feijão,

Faz café com revirado,

Pra ficar mais reforçado

Come junto, uma bolacha,

Pra agüentar o sol que racha,

Na beira do alambrado.

 

Alambrador, velho guapo,

Sol não te pega na cama,

Deixa um peão mociando trama,

Para adiantar o serviço.

Sabe de seu compromisso,

Que ele fez com o patrão,

Carrega trama e moirão,

Feito de angico roliço.

 

Cerca campos, corredores,

Passa por cerros e banhados,

Homem de garrão rachado,

De geada, barro e frio,

Mas nunca perde seu brio,

Pois honra o seu ofício,

Pois tem na lida um vício

E a cerca de sete fios.

 

Por meio deste meu verso,

Mando-te o meu abraço,

Mestre do arame de aço

E da mangueira de listão,

Da cerca de varejão,

Do portão e da porteira,

Só não cercou a fronteira

Que divide este chão.