DOIS MOUROS E UM DESGOSTO
Fabrício Vasconcellos
Venho copliando um retorno
No lombo de um mouro paiceiro
E junto ao costado de tiro
Um mourito de primeiro toso
Regalo, mui lindo que trago.
Pra aquela que deixei em partida
Que na infância foi minha vida
Nos floridos campos do pago
Na mingua dos meus tantos sonhos
Somente um me restou
Que as intempéries, não ressecou
Por visagens de meigos carinhos
Só peço cumprir minha palavra
Que fiz deixada em teus lábios
De um dia voltar a seus olhos
Com dois mouros, junto a estrada
Com a plata, dos anos guardada
E vigor que sobra no peito
Erguerei um rancho a teu jeito
Qual sonhamos em noite de aguada
Terás lua dormindo ao portal
E o sol ao beijar tua janela
E ao ver o sorrir, da mais bela
Saberei do amor ancestral
Ponho teu regalo tão belo
Logo em postura de freio
Que pelo andar de entono que tem
Trás cismas de parar rodeio
E guapas tardes nos virão
Com brisas cantando nos pastos
Duas almas lindas nos bastos
Caindo a trevais de amor brotarão
Então, o mourito do tiro senta
Estirando o cabresto
Pela coruja que cruza a estrada
Talvez alertando um desgosto
Mas, meu mouro firma o caminho
Sabendo as âncias do dono
Que ao longo sonha um retorno
Dos que um dia se virão sozinhos
Relincha o mouro no andar
Reconhece ao longe o várzedo
E na distante imagem do rancho
Mateando aos teus, eu te vejo
Ilusão, tão linda que eu vivia
Se a distancia não fosse findar
Embaçando o meu rude olhar
Ao ver uma tapera vazia
E Junto a tapera sem cor
Penso ter errado meu rumo
E na grande tristeza que paira
Saliva um amargo profundo
Baixando meu olhos ao chão
Encontro um resquício de vida
Mareteia uma flor colorada
Solita agüentando o tirão
E adiante,no aceno mais bruto do arvoredo
Que chora esquecido
Descansa uma cruz em silencio
Firmada ao lenço encardido
E lembro esvaçar ao pescoço
De uma linda primavera
Sei que é ela, Que dorme na terra
E entrego o coração ao desgosto
Volto sofrendo um retorno
No lombo de um mouro paicero
E junto ao costado de tiro
Um mourito de primeiro toso
Regalo mui lindo que levo
Pra aquela que se foi em partida
Que sempre será minha vida
Nos floridos campos do pago.