DO BATISMO DE UM MALINO
Fabrício Marques
Pelo
cantar da cambona
E o
versejar dos gravetos,
É
madrugada na pampa
E o
galpão acordou cedo ...
Muy
disperso junto ao fogo
Negro
Acácio engraxa as “corda”,
Que
de há muito são cartilha
Pra
bagual saber das normas!
Já tão
logo na mangueira
Entropilhando
uns matreiros,
Passo
o cabresto nas crinas
E
saco um bueno pro arreio,
Enquanto
garras e laços
Depois
dos “fletes de aroeira”,
Povoam
lombos crioulos
Na
mansidão galponeira!
Alço
a perna e me retrato
Qual
um centauro pampeano
E o
trim da espora, por farra,
Chama
pra lida o Ruano ...
Depois
da escolta montada
Pras
fainas do pastoreio,
Ataperou-se
o galpão
Da
cantilena dos freios!
Restou
um silêncio de poço,
Três
cavaletes taperas,
Cuia
e cambona abraçadas,
Confidenciando
quimeras
E
um pai de fogo de angico
Enfeitiçando
o inverno,
Com
a misteriosa magia
De
enrubescer o seu cerno!
Uma Rosilha Vinagre
-
Recém deixada da doma -
Se vem cambiando de lado
A
cada passo que soma ...
Lá
adiante se assusta e bufa
Mesclando
sestro e pavor,
Quando
um silbido de vento
Faz
carga no tirador!
E
como a pedir benção
-
Qual filha muy devotada -
A
água da sanga, despacio,
Beija
as patas da Gateada
Onde vem feito um esteio
Sustentando
a xucra essência,
O
mesmo negro que há pouco
Galponeava
na querência!
Três
tauras enforquilhados
E a
tropa contra o alambrado,
Que
encordoada tranqueia
Cumprindo
o rito do gado,
De
engordar na invernada
Enquanto
o pasto “da vaza”,
Pra
se encontrarem depois
Chorando
em cima das brasas!
Nisso!
Um novilho pampa
-
Que por novo no rodeio -
Sonhou
refugar a tropa
Num
estouro brabo e feio,
É
certo que não sabia
Que
pra um índio de a cavalo,
Ter
motivos pra uma armada
É
quase sempre um regalo!
O
Ruano buscou a volta
No
rastro do aragano,
Num
pataleio machaço
De
pingo que é soberano,
Saiu
cheirando na cola
Peleando
de contra o vento,
Que
duetava pachola
Com
os rufos do oito tentos!
...
Só se escutou o tirão
E o
maula deitou na espinha,
Perdendo
o tino e o norte
E
todo o entono que tinha,
Num
batizado de campo
Que
a estância lhe ofertou:
- A
várzea se fez de altar
E a
argola lhe abençoou!