DAS TROPAS DE FAZ-DE-CONTA
Estanislau
Robalo
Nasceu num fundo de campo,
num rancho feito de leiva
chão batido e santa-fé.
Sombreava o oitão do rancho
uma velha tinbauva
que tinha o tronco lanhado
de palanquear redomão.
Deram-lhe o nome de Anau
em homenagem ao avô,
um tropeiro de mão cheia,
que nunca em suas andanças
deixou uma rês estraviada
nos corredores que passou.
Nasceu, assim, como tantos...
desses guris caborteiros,
que fizeram mundo no lombo do cavalo
que cortaram a querência de ponta a ponta,
vencendo rios, campos, matos e banhados
carreteando ou
tropeando bois de corte,
traçando caminhos, abrindo picadas
e plantando vilas, por onde cruzavam.
Dessas vilas e pousadas
brotaram cidades
que povoam o Rio Grande tapejara
orgulho de todo tropeiro,
que fêz querência nos bastos.
Foi nesse clima campeiro
que veio ao mundo o Anau
Mal dera os primeiros passos
aquele piá trabuzana,
se enfiava pelo galpão,
de olhar altivo e vivaz,
botando tenência em tudo
o que a peonada proseava.
Seguia de perto o pai,
quando ele enveredava
na direção do potreiro
pra faina do dia-a-dia.
Já gurizote
taludo,
demonstrava, sobretudo,
inclinação pros arreios.
Aficcionado ao lombilho,
monarqueava
orgulhoso,
um cavalo de taquara,
que ele mesmo amanunciara
pras lidas de faz-de-conta.
Aprendeu a manejar o laço
laçando moerão de cerca
e algum guacho no terreiro
depois trocou aquele flete
por outro mais caborteiro,
queria repisar os pastos
que o velho tata pisou.
Quando mocito
já feito
sentou os recaus no pingo
despediu-se da mãe bugra
alçou a perna e partiu.
Saiu batendo na marca
num trotezito garboso
na direção da invernada.
À sombra dos cabelos negros
um cachorro campeiraço,
que só faltava falar.
Daquela feita em diante
fez do laço e do cavalo
seu modo de bem-viver.
Contou os anos na estrada
e envelheceu troperiando
cumprindo o fado bendito
que a vida lhe reservou.