VERSOS
Érico Rodrigo Padilha
Nasci e cresci gaúcho,
e hei de morrer como tal,
meu velho torrão bagual,
bendito solo abençoado,
eis aqui o meu recado
onde em rimas me confesso,
pra cultuar neste universo
de alma, pampa e poesia,
a perfeita sintonia
pra uma noitada de versos.
Neste bivaque gaúcho,
aonde a arte se acampa,
minha voz nunca se cansa
de enaltecer a poesia,
de falar dessa magia
que me adoça o coração,
do crioulismo de então,
que a transforma em seiva
pura,
se derramando em cultura
e escorrendo neste chão.
Neste recanto sulino,
neste pedaço de terra,
minha mente não governa
e quem manda é o coração,
meus pés não tocam o chão,
e meu coração palpita,
a minha alma levita,
Sai do corpo, perde o rumo,
e eu, por dentro, me consumo,
mas meu verso não se
“achica”.
Pra quem sorve o verso xucro
e doma com sentimento,
tem na poesia o alento
prás intempéries da vida,
tem a cura prás feridas,
tem remédio prás tristezas,
descarrega as asperezas
que lhe sufocam a alma,
e, de repente, se acalma,
dando adeus as incertezas.
Quem traz o verso nas veias
enxerga além do horizonte
encara o mundo de fronte
e não se amedronta por pouco,
ou talvez, seja algum louco,
sem rumo ou destino certo,
que nunca se encontra perto,
do que procura na vida,
e só encontra a saída
no refúgio de algum verso.
Não faço verso por graça,
nem procuro algum “estilo”,
por isso vivo tranqüilo
e não devo nada a ninguém,
escrevo o que me convém,
digo o que sei e que sinto,
minha mente é um labirinto,
sem rumo e sem direção,
que vê luz na escuridão,
pras coisas que eu acredito.
- Eu , na minha ignorância,
não posso crer que um poema
seja feito a duras penas,
sem sentido, sem noção,
somente pela ambição,
de “arrematar” algum tema.
- Eu, na minha ignorância,
Acredito que um poema
Se leve como a pena
E a mão que conduz,
Quando a palavra faz jus
E se transforma em poema.
- Eu, na minha ignorância,
não posso crer que a poesia
seja o altar para uns
e um relicário para outros,
como quem aposta em potros
que já não tem serventia.
- Eu, na minha
ignorância,
Acredito que a poesia
seja o sonho, a magia,
a luz e a escuridão,
o dom e a inspiraçao
em perfeita sintonia.
Não campeio a falsa glória,
se sei que não a mereço,
pois a arte não tem preço,
e ninguém e dono dela,
e a poesia é uma cancela,
“aberta e sem divisão”,
é contraria a opinião
de alguns falsos pregadores
que buscam os tais louvores,
sem alma e sem coração.
Me desculpem, meus senhores,
se não pude “entrar’no verso,
mas numa coisa estou certo,
carrego “ele” aqui dentro,
pois o verso é um sentimento
que vem de dentro pra fora,
não é como a luz da aurora,
que ninguém pede, mas
“ganha”,
pois verso não é “barganha”,
que se encontra a qualquer
hora...
Sem delongas, me despeço,
mas fica aqui o meu recado,
cultuem o chão sagrado
deste Rio Grande querido,
eis aqui o meu pedido
em nome dos grandes mestres;
- Façam do verso uma prece,
para que todos comunguem,
pois glória e fama sacumbem
e a poesia permanece!