NOITADAS DE AUSÊNCIAS
Érico Rodrigues Padilha
De mansinho, sorrateiro,
o inverno chega e senta as garras.
Um vento frio me corta o
pensamento,
entangue a alma por
dentro
e me transforma em silêncio.
Da beira da área grande
lanço um olhar sobre os campos,
onde um quero-quero louco
quebra o mutismo da tarde,
já quase morta.
O sol, mergulha no horizonte
e a noite cai sobre o rancho.
onde mateio solito.
Puxando velhos recuerdos
pela memória já gasta...
O vento,
sopra mais forte,
e faz, costado prá um grilo
que seresteia solito,
n’algum canto do
galpão.
Em meio as
frestas do rancho,
espio um caco de lua.
que vem se espelhar nas águas
do açude grande da frente.
O pensamento tranqueia
nestas rodas fogoneiras.
e a mente libera imagens
trazendo alento pra alma.
Perdido na noite grande,
o urutau canta triste
no calmo embalo das horas
.
Uma coruja curiosa,
espia um cusco ovelheiro
que vara a noite rengueando,
e busca abrigo do vento
na rais de um cinamomo.
Mergulhado nas canhadas
o gado dorme tranqüilo
alheio ao mundo na volta.
Nas águas turvas do amargo,
sorvendo um gole de ausências,
me perco lejo em meus sonhos
de quietude e espera.
Entre um mate e uma tragada,
me paro quieto de novo
e fico a escutar fantasmas
pelo barulho do vento.
O fogo queima em silêncio,
O negro poncho me aquece.
Solidão se faz presente
na madrugada gelada,
que fai se indo aos pouquitos.
Caramba! O tempo passou de pressa
e eu se quer me dei por conta.
O canto do batará
no seu ritual de costume
já chega pedindo vaza,
anunciando um novo dia.
Rompendo a barra do dia,
um quero-quero alça vôo
por sobre a manta gelada
que se estendeu na coxilha.
Fico de novo solito
a lidar com meus silêncios,
que fazem parte de mim.
Viro o mate aquento a água
e espero o dia passar,
pra quando a noite chegar.
madrugar, noitando ausências!