POEMA DA ESPERA MAIOR

Egiselda Brum Charão          

 

Eu sabia que virias,

com toda fúria indomável,

cobrar o tanto que a vida

devagar te veio usurpando...

Pois a mão cruel e implacável

deu-te essa tez de amargura

e as míseras somas da sorte

que estampam-te a figura.

 

Eu sabia que virias

retribuir o logro e,  agora,

para fora, transbordarias

sobejos acumulados:

É o vil metal pelas águas,

o lixo drapejando o chão,

é o fogo das queimadas,

a poeira dos pesticidas,

é a morte no dobre da mão

conduzindo ao assoreamento,

são as brutais enxurradas

e lixos dos alagamentos

nas chagas da poluição!

 

Eu sabia que virias,

que, sem nenhuma pena,

serias o braço crucificador

e tua ira manifestarias:

pelo furor das tormentas,

pela aridez dos desertos,

pela fúria dos terremotos

e no uivo das ventanias...

 

Pois teu brado libertador

eclode em cada semente:

na relva que timbra os campos,

quando concedes beleza

acordando as estações:

nas floradas primaveris,

nos invernos que enrigelam,

no outono das colheitas

e nos mormaços dos verões.

 

Eu sabia que virias,

pois és da vida genitora.

És maestra das melodias

canoras de cada pássaro.

Transmuda-te em esperança

na emoção feito poesia.

És natureza redentora,

renascendo ao sol dos dias,

Mãe das águas, e do ar,

Mãe da terra, Mãe zelosa,

dos teus filhos ....provedora!