NA LEMBRANÇA DE UM ADEUS
Egiselda Charão
Assim como as nuvens
que sopradas por ventos
intemporais
cansaram de resistir e
finalmente,
dissipam-se no ar, para nunca
mais,
assim foi-se vovó Ana....
Levando as lembranças
das geadas invernais que
pintaram de branco
seus ralos cabelos, tão alvos
de amores...
Levando o cheiro da infância
matutina
e uma saudade cristalina
de materno acalanto no olhar
que exalava pelo pago e
emoldurava as retinas
em meio à tempestades de
lagrimas e flores.
Deixou escorada no cinamomo
do oitão da tapera, a carreta
de outras eras,
e dentro dela, um eito de
soluços
numa carga de dores e esperas
Deixou gravado na memória
o ranger da cadeira de
balanço
guardado no baú do coração.
Ficaram... Os recuerdos da
neta guria
a brincarem na nuvem branca
dos ralos cabelos,
penteando sonhos e desvelos,
trancando suas penas
e alisando apenas, o fio da
recordação.
Pois naqueles tempos não
havia solidão,
eram preciosos e raros esses
momentos, só seus
que finaram-se no abraço bem
cinchado da paz,
e num aceno do olhar ...
muito além da emoção
em que serenamente, vovó Ana disse adeus,
- como as nuvens, ela
esfumou-se na imensidão.