MEMORIAL À GUERREIRA SEM NOME
Egiselda Brum Charão
Essas mulheres pampianas,
das
quais somos descendentes,
lavraram
no sangue: a cepa lusitana
mesclada ao índio e a raça africana.
Na solidão da campanha
- feito as
águas das nascentes
que
varam coxilhas,
rumo
ao mar, serenamente,
elas
abriram caminhos,
demarcando
continentes.
Melodiaram horas cansadas
na
quentura dos pelegos,
dia-a-dia rondando estradas,
amilhando desassossegos.
E, amadrinhando as esperas,
acolheraram saudades,
ao
amargor da labuta,
resguardando
o pensamento
das
antigas soledades...
Essas mulheres guerreiras
andaram no lombo
dos
seus parelheiros,
templando de ocasos
este
chão altaneiro.
Nas invernias de outras
eras,
Incansáveis, fecundaram
o pampa com a prole
lendária
pra telúrica quimera.
Em todas as guerras insanas
foram
a coragem dos tauras
na
agonia desumana
das
peleias campo à fora.
Através do seu calvário
deixaram
escrito, no tempo,
o
simbolismo libertário
das
farroupilhas sem nome...
Essas mulheres campeiras
transmitiram
para os gaúchos
a
honradez e a coragem
na
mestiça intrepidez.
Forjaram a fibra indômita
da
mais terrunha
linhagem,
e
uma estranha inquietude
na
soberana altivez.
Legaram a campeira estirpe,
que
a historia tornou legenda,
e
os traços da herança avoenga,
retratados
nas molduras
das
centenárias fazenda
Essas mulheres gaúchas
que
sabiam seu mister
na
formação da querência,
enfrenaram potros alheios,
aos
tirões e sofrenaços,
e
ungidas de sapiência,
desenharam
seus destinos
na
cancha reta da vida,
tendo
a alma cinchada a puaços!