CAMPEIRA MULHER

             Egiselda Brum Charão

 

Feito as filhas de Tupã

fui trazida pelos ventos.

Sou a mulher pioneira,

sou peona galponeira,

seiva da estirpe campeira.

Cresci dormindo ao relento

desta terra abagualada.

Fui sinuelo pela estrada,

demarquei novas fronteiras.

 

Ao giro dos cata-ventos,

vi surgir a raça nova

para as horas do futuro.

Em louvor a esta terra,

fui grito dos esquecidos

em dias de desalentos.

Nas tristes noites de calma,

brotavam, do subconsciente,

velhas rezas avoengas

sofrenadas dentro d'alma.

 

Também fui mescla de sangue

da pura cepa caudilha

e no estertor farroupilha

fui amparo das trincheiras

forjando a estampa guerreira

timbrada ao sol curunilha.

 

Fui molde da fibra altaneira

levando no peito a bandeira

dos entreveros de guerra.

Me temperei nas invernias,

suportei brabos mandados.

Nas inquietas calmarias

- ao retinir das esporas -

fui as prosas galponeiras

no lusco-fusco da aurora.

 

No chimarrão, à tardinha,

amarguei a solidão.

Num fado imaginário

fui esteio para as casas

- tapera no coração -

E nas contas do rosário

rezei as dores sofridas,

chorei misérias sentidas

na dura faina da vida.

 

Meu suor foi vertente rasa

em dolente singeleza.

Andei minguando asperezas

pelos confins do rincão

e trago a face marcada

pelo sulco das tristezas,

- como coxilhas lavradas

ao sol-a-sol do meu chão.

 

Tranquei meu rumo solita,

levando o pago nos tentos.

Ao calor do fogo votivo

semeei o sangue nativo

da nova raça aflorada:

- numa tristeza pungente

do barbarismo primitivo. -

 

Vivendo em muitas eras,

fui saudade nas esperas,

entre arado, gado e fogão,

plantando novas quimeras

pra uma nova geração.

Fui mulher guapa, na essência

e na alvorada do pampa

me transformei em querência

pela força das minhas mãos !