AUSÊNCIA
Egiselda Brum Charão
Há tanta meiguice no olhar
quando nas tuas retinas
me emolduras inteira.
Num sofragante derrama
pelo esquivado mirar
uma ânsia palpitante
e uma inquietude de amar.
Há uma lágrima contida
e embargada na voz,
deixando um sim escondido
a espreitar na janela,
e um não esperando voraz
a mão abrir-lhe a tramela.
Há uma íntima saudade
a impregnar-me as ventanas
e a alma estrangulada
já se tornou morada
dessa mi'a vida aragana.
Há uma inquietude noturna
que num tempo de ilusão
buscava teu peito fremente
campeando teu aconchego
nas sombras da solidão.
A esmo, hoje, te busco
nas noites do meu rincão,
como um guaipeca sarnento
vagueando na escuridão...
E adormeço nos pelegos
acalentando o sonho reúno:
- Sonho que nesse acalanto
a quentura do meu poncho
seja o terno abraço teu
se entrelaçando ao meu!-