Todo mundo... Menos eu

                                  Dimas Costa

Chegou um dia no pago,
Mui perfumada e faceira.
Morena, meiga, trigueira,
Mais linda do que uma flor.
Prenda dessas que ao vê-la,
Por mais taura que se seja,
Até a alma fraqueja
E mata a gente de amor!  

                      

Foi um Deus nos acuda!
A indiada se alvorotou!
E até um velho que a olhou
De amores enlouqueceu!
Todo mundo andava louco
E o seu amor implorava!
Todo mundo a disputava...
Todo mundo... Menos eu!

 

Quando ela passava, catita,
Num maneio encantador,
O índio mais peleador
Gemia de amor contido!
E se ela dava-lhe um sorriso,
Aquele nunca a esquecia
E a todo mundo dizia
Que estava de amor perdido!

 

Perdidos viviam todos,
Portal encanto brejeiro.
Cada qual era o primeiro
A querer um riso seu!
E às vezes, por desconfiança
Muito índio se atracava!
E todo mundo peleava,
Todo mundo... Menos eu!

 

Era uma flor atrevida
Capaz de matar de amor!
Seu olhar tinha um ardor
Que queimava o coração!
Por mais duro que se fosse
Ao vê-la, a gente tremia.
E todo o pago curtia
As dores duma paixão.

 

Se acaso ia num baile,
Havia, certo peleia.
E quanta pendenga feia!
E quanto cuera morreu!
Pois na hora de uma dança
A indiada se atropelava
E todo mundo à requestava
Todo mundo... Menos eu!

 

Uma vez o patrão da estância
A levou para um ranchito.
Mas nunca viveu solito
Pois em grande romaria;
Gaúchos, velhos e moços,
Não contendo os seus amores,
Lá iam, levar-lhe flores
E outros mimos, todo dia!

 

Enfeitavam aquele pouso
Com ramos verdes, plantados,
Como brindes, disfarçados,
Ao novo lar que nasceu.
Mas em verdade, queriam
Vê-la cada vez mais bela!
E todo mundo era dela,
Todo mundo... Menos eu!

 

E assim, gozando venturas
Rainha, dona de tudo,
Aquele olhar de veludo,
Trouxe a tristeza pra o pago...
Tristeza, talvez ventura,
Pois até valia a pena
Sofrer por essa morena
Na esperança dum afago!

 

Um dia, porém a diaba,
Se alçou assim, num repente.
Ah! Meu Deus! Aquela gente
Parece que enlouqueceu!
Muito índio se matou
De tanto, tanto que a amava!
E todo mundo chorava,
Todo mundo... Menos eu!

 

Mas o tempo, esse tirano
Que destrói até memória,
Foi apagando na história
Aquele causo de amor.
Voltou a paz no rincão,
O riso de novo impera
E no rancho, hoje tapera,
Ninguém mais planta uma flor!

 

Seu vulto, não mais recordam.
E dela, ninguém mais fala.
Se alguém lembra, logo cala
Mostrando que já a esqueceu.
Pois a linda flor trigueira,
Que eu nunca vira tão bela
Todo mundo esqueceu dela,
Todo mundo... menos eu!