Recebendo o Neto
Dimas Costa
Chegaste.
Ainda bobo com a luz
Deste mundo aonde estou.
Eu, há muito cheguei.
Sou teu avô.
Minha alma faz algum tempo
Que´por aqui acampou.
Até já estou por partir.
Sou teu avô.
Chegaste.
Recém para ti meu neto,
A campereada começou.
Eu, já de cascos curtos...
Sou teu avô.
Pois bueno:
É por direito e por experiência
Que alguns conselhos te dou.
E hás de usá-los por proveito...
Sou teu avô.
A estrada é muito longa,
Tem percalços e seduções;
Tem sóis-colores lindaças!
Que não são mais que ilusões.
Te emborracha algumas vezes
Nesses deslumbres da vida;
Mas forceja pra refugar,
Quando o limite convida.
Aproveita o que puderes
Nas fandangueadas do mundo;
Mas não bebe nunca o copo
Até chegar bem no fundo...
Aprende a suster as ânsias
E a sofrenar teus desejos;
Faz com amor e ideal
O que mandar teus almejos...
Respeita teu semelhante
Mas dele... sempre cuidado!
Dá até onda tu possas,
Mas guarda pra ti um bocado.
Sejas fiel aos teus princípios,
Honrado contigo mesmo.
Segura a tua palavra,
Não largue charlas a esmo!
Não te amofines demais,
Que isso causa embaraço.
Revida com força e fibra
As ameaças do fracasso.
Quando chegares ao meio
Da estrada do teu viver
Pára e olha pra traz
E muito terás que ver...
Faz as contas com cuidado
Guarda o troco de mansinho;
Volta pra frente e te toca,
Acharás outro caminho.
Depois, um dia, por certo,
Chegarás aonde estou...
E já não serás mais neto,
Serás pai, serás avô.
Aí é que precisa fibra
Para agüentar o tirão.
Mas no que te digo agora,
Saberás toda a razão.
Chegaste.
Sejas bem-vindo,
Na tua nova morada!
Que os exemplos do bem
Ilumine a tua estrada!
“Que Deus velho te conceda,
Com sua benevolência,
Muitas boas campereadas
Nos potreiros da existência!”