O Velho Madrugador

Dimas Costa


Como um fantasma, vagando
Pelo silêncio das peças
Da casa, onde a família,
Mulher, filhos e netos,
Dormiam, matando o sono
Numa noite de vigília;
( Vigília atentas ao filme
Que a televisão apresentou ),
O velho madrugador,
Já farto de chimarrão,
De ouvir rádio, ler jornais,
Vagueia assim, sem rumo,
Por entre quatro paredes;
Prisão que a doença - velhice
Lhe impusera pela culpa
De ter avançado além
Dos setenta anos ou mais.

Sufocado ali por dentro,
Às vezes chega à janela,
E como uma sentinela,
Espreitando o movimento,
Termina perdendo o olhar
Numa nesga de campo, ao longe,
Onde um pedaço de terra,
Num terreno inda baldio,
Se ficou, fazendo preço
Pra o proprietário avarento.

E o velho fica por tempo
Na nesga dessa janela...
Seu pensamento então voa
Nas asas de uma saudade
Que sempre assim, nessa idade,
O homem tem que sentir.
Uns acham que não convém
Recordar coisa passada,
Que não adianta de nada,
Porque o que se foi, acabou!
Mas quem há de certo dia
Se ver livre dessa pena?
Se o sentimento é um bagual
Que ninguém doma ou sofrena.

Quem ri porque os velhos
Vivem o passado a lembrar,
Um dia será passado,
E também há de chorar.

Por isso o veterano,
Que acordou de madrugada
Pra vigília do seu mate,
Pra angústia do seu nada,
Vagueia pelo silêncio
Da casa adormecida,
Como uma sombra perdida,
Como uma alma penada.

E, sem ter o que fazer
E nem com quem conversar,
Cansado de bater cascos
Pelos cantos da parede,
Exausto de recordar,
Enraivecido pelo tédio;
Se recosta na poltrona
Para dormir outra vez.
Porque: pra quem sofre de velho,
( E a velhice não tem cura ),
Entende que nessa altura,
Dormir é o melhor remédio!