MISCIGENAÇÃO
Dimas Costa
Da convulsão das histórias
que vieram formando o mundo,
num resto de amor profundo
eu trago na minha estampa.
e de tudo que foi feito,
no continente sulino,
trago um pouco do destino
do homem filho do pampa.
Tenho sangue de gaudério
correndo dentro das veias
e resta, talvez, de idéias,
de revoltas e de guerra.
Apego ao chão nativo
do índio que aqui viveu
e que peleando morreu
em defesa desta terra.
Anseios de liberdade
e ódio a escravidão!
Volúpia pela amplidão
e desejos de abandono!
A garganta estrangulada
querendo sempre gritar
como Sepé, protestar
que esta terra ainda tem dono.
Tenho até na minha cara
os traços originais
que vem dos meus ancestrais,
numa cruza mui baguala!
Nos astros, sonhos ardentes
que embalaram os desatinos
dosa amantes clandestinos
nos pecados da senzala.
Do português, a humildade;
do espanhol, desenvoltura!
Do lusitano, a cultura,
do andaluzo a inquietude!
Do negro, o banzo, a saudade
do aborígene, o nativismo;
do mameluco o priotismo
e do gaúcho a virtude.
Tudo isto está mesclado
na forma deste meu ser.
Por isso que meu viver
nem a mim mesmo pertence.
Venho por ordem de Deus,
pra que no verso que faça,
eu pregue a origem da raça
do gaúcho Rio Grandense.